#COMENTÁRIO
Não tem intenção nenhuma este breve
comentário condenar ou absolver a professora Camila Jourdan, essa ação já está
sendo tomada pela mídia e consequentemente, a opinião pública.
O que queremos analisar é como às vezes
um fato motivador de uma ação pode se enveredar por caminhos inesperados e
irretornáveis. Veja por exemplo essa professora, inteligente, culta e
determinada. Sem levar em consideração as suas tendências políticas um tanto
conflitantes com a sociedade, nos chama a atenção para uma frase dita por ela:
- “O Lula era visto como a esperança de mudança e fez
um governo à direita. Esfregou na cara das pessoas aquilo que os anarquistas
sempre disseram: não adianta você mudar as peças do jogo se o problema é o jogo.” Longe de se achar um “anarquista”, isso é
um fator muito importante que todo brasileiro deveria tomar conhecimento.
Essa é a realidade que está à nossa
face e por usarmos óculos escuros doados por facções políticas tendenciosas,
somos levados a pensar que o problema do País é o partido X ou o partido Y. Não
consideramos que o maior problema nem sempre é o maquinista, mas sim a máquina
aparelhada do Estado...
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: A Folha de São Paulo
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FABIO BRISOLLA - LUCAS VETTORAZZO - DO RIO - 28/07/2014
Por 13 dias, a professora universitária
Camila Jourdan, 34, permaneceu em uma cela no complexo penitenciário de Bangu,
na zona oeste carioca. Ela é uma das protagonistas do inquérito com mais de
2.000 páginas, produzido pela Polícia Civil do Rio, que, sob a classificação de
"quadrilha armada", responsabiliza 23 pessoas pela organização de
ações violentas em protestos. "Do pouco que li, posso dizer que esse
processo é uma obra de literatura fantástica de má qualidade", definiu
Camila, à Folha, no sábado (26), dois dias após conquistar sua liberdade
provisória.
Ela cita o teórico do anarquismo
Mikhail Bakunin, ao falar sobre a fragilidade do inquérito. Em mensagens
interceptadas pela polícia, Bakunin era citado por um manifestante e, a partir
daí, o filósofo russo, morto em 1876, passou a figurar nos autos como potencial
suspeito. Por volta das 6h de 12 de julho, véspera da final da Copa, três
policiais civis invadiram o apartamento da professora, que estava acompanhada
pelo namorado, Igor D'Icarahy, 24, com mandados de prisão contra ambos. De
acordo com o inquérito, os agentes encontraram uma garrafa com gasolina, uma
bomba de fabricação caseira e outra conhecida como "cabeção de nego".
Em diálogos grampeados, Camila faz referências a "livros" e
"canetas", que, segundo os investigadores, seriam respectivamente
coquetéis molotov e rojões. Camila se recusou a falar sobre provas contra ela
por orientação de Marino D'Icarahy, seu advogado e pai de Igor, que diz que as
provas foram plantadas pela polícia.
LÍDER
"FABRICADA"
Às referências constantes a seu nome no
inquérito, Camila atribui uma razão: "existe uma necessidade de se
fabricar líderes para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no papel
da mentora intelectual? A professora universitária. Cai como uma luva,
entendeu?"
Na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ), Camila Jourdan sempre foi associada à excelência acadêmica. Um
currículo "invejável", segundo um diretor da UERJ. Formada em
filosofia, concluiu o doutorado pela PUC-RJ, com direito a um período de
estudos na Universidade de Sorbonne, em Paris. Sua tese foi sobre a obra do
filósofo Ludwig Wittgenstein. "É uma excelente pesquisadora que se
destacou por um trabalho original e muito sério", avalia Luiz Carlos
Pereira, seu orientador nas teses de mestrado e doutorado.
De família da zona norte, Camila é neta
de general. Seu pai morreu de câncer, quando era adolescente. Solteira, conta
com o apoio da mãe para criar a filha, de 12 anos. Classificada em primeiro
lugar na seleção para professores da UERJ em 2010, ela atualmente é coordenadora
do curso de pós-graduação em filosofia. Diz não gostar da burocracia inerente
ao cargo. Prefere a sala de aula. A professora recorre ao filósofo francês
Michel Foucault para explicar que sua formação acadêmica está dissociada de sua
participação na OATL (Organização Anarquista Terra e Liberdade) e na FIP
(Frente Independente Popular), grupos acusados no inquérito de promover ações
violentas em protestos.
"Foucault diz que os intelectuais
descobriram que as massas não precisam deles como interlocutores. Não tenho
autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O movimento não precisa de
mim para este papel".
Camila credita à FIP o mérito de tirar
das manifestações do Rio a influência dos militantes de direita e dos partidos
de esquerda. Define-se como anarquista. Começou a se interessar na
adolescência. "Eu gostava muito de Raul Seixas e descobri que ele era
anarquista. Ali decidi começar a ler sobre o assunto." Aos 14 anos, saía
para distribuir panfletos pregando o voto nulo. Sua estreia em protestos de rua
foi no fim da década de 1990, época das privatizações do governo de Fernando
Henrique Cardoso. O desempenho do governo Luiz Inácio Lula da Silva reforçou
suas convicções: "O Lula era visto como a esperança de mudança e fez um
governo à direita. Esfregou na cara das pessoas aquilo que os anarquistas
sempre disseram: não adianta você mudar as peças do jogo se o problema é o
jogo."
Ela considera o processo eleitoral,
"viciado", incapaz de provocar alguma modificação social ou política.
Atribui as ações violentas dos
manifestantes a uma resposta à truculência policial. "Existe o direito à
legítima defesa". Rechaça a tese de que a baixa adesão às manifestações
recentes se deve à violência e aponta a maior conquista neste processo. "Ninguém
em sã consciência achou que junho representava um momento revolucionário. Foi
importante no sentido do empoderamento da população. Isso nem esta tentativa de
criminalização pode tirar."
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