Sociedade
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#COMENTÁRIO
Projetos faraônicos podem ser considerados
diplomas de governantes desde a mais antiga história, não é verdade? Pois é,
por estas bandas, as coisas não são diferentes.
Quase que esquecida, desde dois mil e
doze, essa obra de transposição de águas do Rio São Francisco para o árido sertão,
por motivos puramente políticos, acelerado pela crise de falta de água que
assola várias regiões do Brasil, eis que retornam os trabalhos para o término do
aqueduto.
Orçado em torno de quatro bilhões e
tantos quando de sua projeção, hoje já está em mais de oito bilhões e
caminhando... Como o término desse trecho que está em execução está previsto
para o final de dois mil e quinze, podemos esperar tranquilamente o acréscimo
do custo final da obra com a multiplicação de algumas vezes mais o valor atual.
Veja bem, esse é o custo de apenas a ligação das fontes ao leito do rio, não
está contabilizada a ligação de disponibilização da água aos usuários... Pode?
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: Folha
de São Paulo
#CONVITE
Que você acha dessa nova pirâmide
construída pelos nossos faraós?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
JOÃO PEDRO PITOMBO - DE
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO - 09/11/2014
Impulsionada por um sistema de quatro bombas – cada
uma com peso equivalente a cem carros –, as águas do rio São Francisco molharam
pela primeira vez os canais de concreto da transposição.
Mas a mesma água que começa a percorrer os canais
do eixo leste chega fraca nos canos da irrigação das terras do produtor de
alface Arilo Farias, 28, e está longe de atingir a casa de Carmélio de Souza,
46, que planta milho e feijão em seu quintal. Os primeiros testes da
transposição, iniciados há um mês, colocaram comunidades em rota de colisão.
Enfrentando forte estiagem há quatro anos, moradores veem com ressalvas o
desvio das águas, que, durante os testes, não servirá às comunidades. A
captação é feita num dos principais reservatórios do rio São Francisco, o lago
de Itaparica, que está com apenas 15% do seu volume útil. Em Petrolândia,
sertão pernambucano, o medo é sentimento recorrente. No perímetro irrigado
Icó-Mandantes, pequenos agricultores reduziram a plantação e estão perdendo a
produção de coco, melancia, cebola e hortaliças. "Estão descobrindo um
santo para cobrir outro", diz José Arivaldo Gomes, 30, que, com o início
de um racionamento para irrigação, reduziu a área da cebola de quatro para um
hectare.
PROTESTOS
Moradores de Petrolândia protestaram contra os
testes. A Força Nacional atuou para arrefecer os ânimos e garantir o
bombeamento das águas. Cerca de 120 km ao norte, o leito do riacho do Navio,
imortalizado na música de Luiz Gonzaga, é só areia. No assentamento de
agricultores na zona rural da cidade vizinha de Floresta, Carmélio vê o vaivém
de caminhões e tratores que escavam mais um trecho de canais. Com a seca, cobra
celeridade nas obras, abandonadas em 2012 e retomadas este ano. "Estamos
ansiosos. Soube que estão enchendo os canais e não vejo a hora de a água chegar
aqui também", diz. Diretor do sindicato rural de Floresta, Ricardo Souza
diz que alguns "reclamam de bucho cheio": "Se quiserem protestar
de novo, vamos contra-atacar. Precisamos dessa água".
As famílias que dependem da agricultura de sequeiro
– sem irrigação – em Floresta sobrevivem de benefícios como o Bolsa Família.
Pequenos trabalhos na zona urbana complementam a renda.
BOMBEAMENTO
Desde outubro, quando as bombas foram acionadas, o
nível do reservatório de Itaparica baixou. O governo nega que seja resultado
dos testes. Com o início dos testes, 5 mil litros de água por segundo passaram
a ser bombeados para os canais. Aumentará para 28 mil com a obra pronta, volume
um pouco menor do tratado pelo sistema Cantareira, de São Paulo. A obra da
transposição atualmente tem 12 mil trabalhadores em atividade e está 66%
concluída. A previsão de entrega dos eixos norte e leste é dezembro de 2015. A
expectativa é que atenda 325 comunidades rurais no entorno dos canais. Ainda
não há previsão de quando as ligações de água para as casas dos sertanejos
serão feitas.
A obra, inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões e com
entrega prevista para 2012, teve seu custo atualizado para R$ 8,2 bilhões.
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