#COMENTÁRIO
Esse é um dos maiores problemas que
assola o mundo de uma maneira geral. Enquanto perde-se uma quantidade enorme de
alimentos por motivos mil, uma parcela muito grande de pessoas não tem sequer
um punhado de quiabos para se alimentar.
Motivos estruturais, econômicos e principalmente
culturais são fatores que influenciam nessas perdas. Aqui no Brasil, a
confluência desses três fatores, segundo números citados no corpo da matéria
abaixo, dá para se ter bem a noção do tamanho dos prejuízos e das perdas causadas
pela colheita e armazenamentos deficientes e transportes inadequados dos
produtos agrícolas.
Não incluído nesse levantamento, o aspecto cultural do indivíduo mostra-se como talvez o
principal fator de desperdício e prejuízo da safra posta à venda. Pequenos
vícios como apertar frutas, atirar hortaliças que não quer de volta à baia,
surrupiar pequenas porções ou unidades de frutas expostas, constituem pequenos
desvios educacionais que não foram corrigidos na formação da pessoa. Eles não
levam em consideração que aquilo que rejeitaram e da maneira de como os rejeitaram,
destruíram a possibilidade de outra pessoa usar e ainda causaram prejuízo ao
vendedor... Isso é berço, como diria meu pai...
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: A Folha de São Paulo
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TATIANA FREITAS - DE SÃO PAULO - 21/07/2014
A alta no preço dos alimentos e o
aumento previsto para a demanda nos países emergentes colocaram o desperdício
no centro do debate sobre segurança alimentar. Os volumes perdidos justificam a
preocupação. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação), 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos ou
desperdiçados por ano em todo o mundo – o equivalente a 30% de tudo o que é
produzido. O número considera perdas em todos os estágios – do campo ao prato.
E, apesar de os alimentos pesarem cada
vez mais no bolso, o maior índice de perdas (35%) ocorre no consumo, puxado
pelos países desenvolvidos, responsáveis por 56% do desperdício, segundo o
Banco Mundial.
Quem nunca recusou uma cenoura porque
estava torta demais? Ou quebrou a pontinha de um quiabo para saber se estava no
ponto para levar para casa? São ações que parecem inofensivas, mas pesam nas
estatísticas. Afinal, ninguém vai comprar aquele quiabo que ficou com a
pontinha quebrada na banca. Será, portanto, desperdiçado.
Estudo divulgado no mês passado pelo
painel de especialistas em segurança alimentar das Nações Unidas analisa os
efeitos desse desperdício. Entre eles está a menor oferta de comida no mundo e,
como consequência, preços elevados. Por outro lado, destaca o estudo, preços
mais altos tendem a incentivar maior cuidado com os alimentos – teoria que
ajuda a explicar a maior preocupação com o desperdício atualmente e as novas iniciativas para reduzi-lo.
BRASIL
O problema do desperdício no Brasil não
se concentra no consumo, responsável por 10% das perdas. O maior índice está no
manuseio e no transporte (50%), segundo estudo da Embrapa.
Antonio Gomes, pesquisador da Embrapa
Agroindústria de Alimentos, afirma que o transporte, o manuseio, as embalagens
e a forma de comercialização de alimentos "in natura" no Brasil, a
granel, são inadequados.
"O Brasil está muito atrasado em
práticas para reduzir as perdas", afirma Walter Bleik, professor titular
de economia agrícola da Unicamp e um dos autores do estudo mais recente da ONU.
Entre as mudanças sugeridas pelos
especialistas para reduzir o desperdício nesse estágio da cadeia estão cargas
refrigeradas para o transporte de frutas e verduras (ou pelo menos o transporte
à noite, quando há menos luz e calor) e o fim das caixas de madeira para os
perecíveis.
"Não é possível higienizá-las de
forma adequada. Um fruto com fungo transportado ali pode contaminar muitos
outros que serão levados no mesmo local posteriormente", diz Bleik.
No caso de cereais e grãos, são
necessários investimentos maiores e mudanças estruturais. A principal causa das
perdas está no transporte da safra por caminhões.
TRANSPORTE
Segundo Antonio da Luz,
economista-chefe do sistema Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do
Sul), a única forma de reduzir o desperdício de grãos e cereais é aumentar de
maneira significativa a participação do modal hidroviário na matriz de
transportes. "Um caminhão não foi feito para percorrer 2.000 quilômetros
com soja."
Ele compara o transporte da soja no
Brasil e nos EUA, que produz volume semelhante. Enquanto 60% da oleaginosa é transportada
por hidrovia nos EUA, no Brasil esse percentual é de apenas 11%.
Além dos grãos que caem das carretas
durante os longos trajetos, o economista calcula as perdas financeiras.
Enquanto um produtor de Iowa (EUA)
gasta US$ 100 por tonelada para percorrer 2.149 quilômetros até o porto de Nova
Orleans e colocar a sua soja em Xangai, o agricultor de Sorriso (MT) tem uma
despesa de US$ 157 por tonelada, considerando um trajeto menor até o porto de
Santos, de 1.900 quilômetros.
Em mercadorias, a diferença de
infraestrutura e de custos entre o Brasil e os Estados Unidos causa ao produtor
mato-grossense uma perda de sete sacas de 60 quilos de soja por hectare – o
equivalente a 14% da produtividade média no Estado, de 50 sacas/hectare.
"Nós tratamos todo esse gasto a
mais do produtor brasileiro como desperdício. E os esforços para reduzi-lo
ainda estão muito longe do que é necessário", afirma Luz.
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