Cidadania
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#COMENTÁRIO
Só para não ficar repetitivo, eis a USP
novamente na mídia, com má publicidade. Por onde andam a reitoria e
administradores da universidade? A cada dia que passa, mais e mais notícias
estarrecedoras surgem da Faculdade de Medicina da USP, parece haver ali uma rede
composta de tudo o que há de mais baixo, de mais podre em comportamentos
humanos. Tudo isso embaixo das barbas da administração da universidade, poderíamos
facilmente incluir esses comportamentos boçais como fazerem parte do rol das
justificativas para a baixa qualidade e responsabilidade de médicos atendentes
em hospitais e postos de saúdes pelo Brasil afora. Não é possível, não é lógico
que alguém passe anos fazendo parte dessa baderna, dessa farra desenfreada que
ceifam vidas, não de inocentes alunos, mas de pretensos candidatos ao rol da
farra e depois de todo esse tempo na algazarra, tornem-se senhores médicos
respeitosos e aptos a salvar vidas, cuidar de doentes, de atos de benevolências,
de fazerem-se juz à promessa de formatura.
#Disse
Carlos Leonardo
Saiba mais sobre o que você vai ler
na matéria:
Vítimas de estupro em festas da USP denunciam abusos à Alesp
Metade dos calouros da USP está entre os 20% mais ricos do
Brasil
Alunos têm de
estudar e não 'encher a cara', diz diretor da Poli
Homens armados
invadem campus da USP e assaltam estudantes
Atleta é
espancada após reagir a assalto em frente ao campus da USP
Para impedir
aulas, alunos empilham carteiras e fazem 'piquete sonoro'
#CONVITE
Você conhece algum fato relatado sobre despreparo
médico? Brinquei não é?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
Vídeo
mostra prática violenta que chega a ser feita contra a vontade de membros do
grupo
Ana Cláudia Barros, do R7
Cercado por alunos da FMUSP (Faculdade de Medicina
da USP), um jovem, também estudante do curso, recebe violentos tapas nas
nádegas, cobertas por um campo estéril, usado comumente em cirurgias.
Paramentados como se estivessem prestes a operar um paciente, os universitários
ignoram os gritos de desespero da vítima. A cena descrita foi exibida em vídeo
durante a audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da
Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta terça-feira (11). Ela retrata
um ritual chamado de “pasta” ou “pascu”, praticado há anos na Associação Atlética
Acadêmica Oswaldo Cruz, dirigida por estudantes da FMUSP, segundo o estudante
Z, ouvido pelo R7. De
acordo com denúncias de alunos levadas à comissão, a prática significa um rito
de passagem, mas também uma forma de punição dos integrantes da Atlética. O ato
é, basicamente, a simulação de um procedimento cirúrgico, em que a anestesia é
representada pelos tapas na região glútea. No final do ritual, os estudantes
costumam aplicar pasta de dente na região perianal de quem sofre a humilhação. No
caso do vídeo exibido na Alesp, houve uma peculiaridade: um pedaço de pizza foi
colocado nas nádegas do rapaz. O motivo? Ele era contra a “pasta”, segundo
contou Z. Em entrevista ao portal, o aluno, que fez parte da Atlética durante
dois anos, relatou que a gravação da violência foi exigência de um veterano. —
O episódio do vídeo é particularmente caprichoso, porque era uma pessoa da
gestão da Atlética na época e se posicionou contra a “pasta”. Ele já tinha sido
submetido ao ritual de passagem, então, para ele, a pasta era só punitiva [...]
Um cara muito mais velho, que era do décimo ano, na época [...] Décimo ano é
tipo a glória máxima. É a pessoa que está no último ano de competição e já fez
muito pelo time. Então, ele fez uma ameaça e tinha respaldo da turma dele.
Ele falou: “Quero que vocês deem uma “pasta” no cara, gravem um vídeo e
me mandem. Uma pasta com pizza. Se vocês não fizerem isso, vou voltar aqui e
dar “pasta” em todo mundo”.
Diante da ordem, conforme Z., alunos do quinto e do
sexto ano da época, integrantes da Atlética, organizaram-se para aplicar o
castigo. — É muito cruel. Os agressores filmaram o ato de agressão. Segundo o
universitário, a vítima que aparece no vídeo, que inicialmente era contrária ao
“pascu,” passou a reproduzir a prática. — Não é uma pressãozinha de grupo. A
pessoa tem acesso a seu corpo. É bizarro.
Hierarquia forte
A Atlética utiliza o espaço de um clube localizado
nas imediações do Complexo Hospital das Clínicas/Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. A gestão estudantil é escolhida por meio de
votação, mas a influência de ex-diretores e ex-alunos é forte, de acordo com Z.
Ele relatou que o maior objetivo é vencer as competições, o que é considerado
uma forma de “honrar as tradições”. Além da diretoria, os estudantes se
organizam em modalidades esportivas e há também uma bateria. O
universitário explicou que, dentro do grupo, há fortes aspectos hierárquicos
que, em geral, são baseados no tempo de participação na instituição e no mérito
esportivo e musical. Esse último, no caso da bateria. Qualquer ato que seja
entendido pelos diretores como um desvio de comportamento, como por exemplo,
desrespeito à hierarquia, é passível de punição. — A menor desculpa é uma
justificativa para a pessoa sofrer a agressão. Por motivos banais, que o R7 optou por não descrever para
evitar a identificação de Z., o aluno diz ter sido submetido à “pasta” em dois
momentos. — Dói. É realmente uma agressão física, mas dói só no momento. Rola
uma tortura psicológica, porque você está de costa e não sabe o que está
acontecendo, não sabe quando vai acabar [...] A sensação que você tem depois é
de humilhação completa. Segundo ele, alguns estudantes precisam ser contidos,
mas grande parte aceita o castigo resignada. Ele contou que os mais velhos
ligados à Atlética são obrigados a participar do ritual. — Geralmente,
participam o quinto e o sexto ano, que são os internos, parte mais alta da
hierarquia. Eles são obrigados a participar porque, no fim das contas, é um
grande risco que estão assumindo, e eles querem que todo mundo esteja sujo para
que não haja dissidentes dessa prática. Os diretores da Atlética são os que
mais sofrem, conforme o relato de Z., porque são considerados referência, têm
que dar o exemplo e “prezar pela vitória e glória da Atlética sempre”. Para
ele, muitos relativizam a agressão. — Vem alguém depois falar com você e
te acolher. Você se sente realmente parte do grupo quando isso acontece. Tenho
um colega que chegou a falar, quando estava no segundo ano, que ele queria levar
uma “pasta” para se sentir incluído no time. É esse tipo de pessoa que reproduz
essa prática depois.
Trote velado
Z. disse que, até 1999, todos os calouros que se
colocassem para participar da Atlética sofriam o “pascu”, de acordo com relatos
que teria ouvido dos mais velhos. A prática era uma parte do trote, mas de
forma velada. Com a morte do calouro Edison Tsung Chi Hsueh em fevereiro
daquele ano, a situação mudou. Segundo Z., a USP passou a ter uma ação
importante para combater o trote. — Mas essa atitude não foi completa. Evita-se
o trote só no primeiro ano. Depois, no segundo ano, já existe a expectativa de
que a pessoa vai sofrer essa violência [...] Não é porque não acontece no
primeiro ano que deixa de ser trote. Existe até o argumento de que as pessoas
estão sendo integradas ao grupo com esse ritual. Só que é uma coisa que não é
inclusiva. Ela veste esta máscara, mas não é inclusivo.
Mudança
Z. decidiu sair ao perceber não seria capaz de
implementar mudanças naquele lugar. A compreensão de que não se sentia parte do
esquema foi consolidada, disse ele, ao ver que pessoas, incluindo de fora da
Atlética, eram desrespeitadas. — Existe uma grande sensação de impunidade. O
ambiente da Atlética é totalmente permissivo. A morte do Edison é um ótimo
exemplo disso. Morreu uma pessoa naquele local e a faculdade simplesmente se
omitiu. Disse que era coisa dos alunos, que não aconteceu dentro da faculdade
[...] As pessoas foram acusadas de homicídio qualificado e foram absolvidas. No
ano passado, de cidiram arquivar. Foram 15 anos de processo e de impunidade
total. Indagado se acreditava que é possível extinguir a pasta das práticas da
Atlética, respondeu sem disfarçar o ceticismo. — Acho que muita coisa
precisa mudar. As coisas precisam ser trazidas a público, porque internamente
essa mudança não é possível [...] A grande maioria [dos alunos] legitima as
ações violentas pelo silêncio. Elas não estão dispostas a se expor. Por mais
que não reproduzam ativamente essa prática, acabam a legitimando. Se as pessoas
que têm o poder na Atlética continuam perpetuando essa prática, não vai acabar,
mas se a sociedade civil cobrar isso... Afinal, tudo está acontecendo em terreno
público. A sociedade tem o direito de cobrar ética.
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