Saúde
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A servidora pública Fabiana Ikeda,
que espera há um mês num hospital particular de Brasília por um doador
compatível: ‘o transplante é minha única expectativa de vida’ - André
Coelho / Agência O Globo
#COMENTÁRIO
Há algumas coisas que se fica sabendo
que podemos chamar de materialização do absurdo. Lendo a reportagem abaixo, apesar
de não estarem bem detalhadas as razões, não é possível se imaginar os motivos
que levam ao Ministério da Saúde limitar os testes de compatibilidade para candidatos
doação de medula óssea.
A necessidade de transplante desses
pacientes é inquestionável, as dificuldades de compatibilização são imensas,
por que razões a burocracia tem que complicar esse quadro sofrido? Não pode ser
considerado o custo, uma vez que as despesas para confecção desses testes
parecem ser muito baratas em relação a outros exames.
Acima de tudo isso, teoricamente o
Ministério da Saúde deveria representar a facilitação de atendimento a todos pacientes
em suas necessidades básicas.
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: O
Globo
Saiba mais sobre o que você vai ler na matéria:
#CONVITE
Não acha que a burocracia não deveria
interferir nos procedimentos médicos?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
Ministério da Saúde, por outro lado, vê abuso nos
pedidos de exames de compatibilidade feitos por laboratórios
VINICIUS
SASSINE - BRASÍLIA - 06/11/2014
O Ministério da Saúde vê abuso nos pedidos de
exames de compatibilidade (feitos por laboratórios) e limitou o número de novos
candidatos a doadores que podem se cadastrar nos bancos de medula óssea. Quem
espera por uma doação vê nesse teto uma ameaça à própria vida. E a Justiça, em
pelo menos duas decisões recentes, vê a razão do lado dos pacientes. Em meio a
um delicado cabo de guerra, com argumentos de ambos os lados, está em jogo a
sobrevivência de 1,1 mil pessoas na fila do transplante.
Gente como a servidora pública Fabiana Ikeda de
Oliveira, de 37 anos, com leucemia linfoide aguda. Entre a internação por dores
no corpo e o resultado dos exames, não se passaram 24 horas. Ela está no leito
de um hospital privado de Brasília há um mês, inscrita no cadastro de
receptores. O transplante é a única possibilidade de cura, mas na família não
apareceu um doador: a mãe também teve leucemia e morreu de forma fulminante há
três anos; o pai já extrapolou a idade para doar; o teste com o irmão mostrou
incompatibilidade. As chances agora só existem a partir de rostos anônimos do
banco de doadores. - O transplante é minha única expectativa de vida. Se eu não
conseguir, vou ter pouco tempo - diz Fabiana, mãe de Gabriel, de 14 anos, e
Tarsila, de 9. O teto estabelecido pelo Ministério da Saúde começou em 2012 -
eram admitidos, então, no máximo 267,1 mil novos cadastrados anuais no Registro
Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). No ano seguinte,
outra portaria estendeu o limite para 400 mil novos doadores anuais. O Redome
tem hoje 3,5 milhões de doadores cadastrados. É o terceiro maior banco do
mundo, atrás dos de Alemanha e Estados Unidos. O SUS custeia tudo,
diferentemente do que ocorre em outros países. Cada exame de
histocompatibilidade, condição básica para a inclusão de alguém no registro,
custa R$ 375. As chances de êxito na identificação de um doador são de 64%,
segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), responsável pelo banco de dados.
Na Alemanha, chegam a 80%. O mais importante, na visão do governo, é ampliar a
qualidade genética das doações. Por isso o teto na Bahia, estado com
preponderância de negros - e, portanto, grandes chances de compatibilidade com
a maioria dos brasileiros - subiu de 5.020 para 20 mil. No Rio, a quantidade se
manteve a mesma: 14.040. Por vias judiciais, esses tetos passaram a ser
atacados. - As portarias não foram editadas para limitar, mas para ordenar. O
Redome, até 2003, tinha 30 mil doadores cadastrados. Hoje são 3,5 milhões. O
valor gasto só com os exames era superior ao que se investia no próprio
transplante. Agora, uma rede de estudos genéticos avalia características
genéticas por região - afirma Luis Fernando Bouzas, diretor do Centro de
Transplante de Medula Óssea do Inca.
AÇÕES MOVIDAS PELA OAB
Em junho, a Justiça Federal em Franca (SP) derrubou
as restrições à quantidade de doadores na cidade, a partir da ação movida por
uma paciente com leucemia. No mês passado, a Justiça Federal em Goiânia obrigou
o Ministério da Saúde a fazer, em até 20 dias, os exames de
histocompatibilidade das amostras do Hemocentro da capital goiana e de outros
laboratórios onde haja material semelhante. O teto em Goiás foi considerado
inconstitucional. A ação foi movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no
estado, a partir do apelo da família de uma criança de 6 anos com leucemia.
Movimento similar ocorre em Pernambuco e Mato Grosso do Sul, onde as seccionais
da OAB preparam ações para derrubar as restrições. Profissionais da área, no
entanto, enxergam na iniciativa uma pressão de grandes laboratórios para voltar
a faturar com exames desenfreados. Não falta quem concorde com a visão do
ministério e diga ser mais importante a variabilidade do que a quantidade de
doadores. Fabiana, na fila de espera, critica o teto. Mas diz confiar no
registro de doadores: - É lógico que estou otimista. Tenho de estar sempre.
Ela já recebeu indicativos de 20 potenciais
doadores com características genéticas semelhantes - Fabiana é descendente de
japoneses. A família, capitaneada pelo marido, começou uma campanha nas redes
sociais para ampliar as doações. - Eu entendo que o aumento de doadores me
beneficia. Eu tenho dois filhos para cuidar - afirma a servidora do Ministério
do Desenvolvimento Social. O tempo médio de espera por uma medula óssea, nos
casos de transplante entre não aparentados, é de quatro meses. Mais dois meses,
em média, são gastos na espera por um leito do SUS. Os problemas relacionados
aos doadores, com os questionamentos judiciais aos tetos definidos pelo
Ministério da Saúde, se somam a outros entraves para o transplante de medula
óssea: a falta de leitos, a falta de centros especializados e a demora do
Redome em dar respostas sobre doadores.
Só nove estados fazem transplantes alogênicos,
aqueles em que há necessidade de doadores: São Paulo, Pernambuco, Paraná, Rio
de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Bahia e
Goiás. Em 2013 houve apenas 669 transplantes alogênicos de medula óssea, 6,2% a
mais que em 2012, quando houve 630.
BATALHA PARA OUTROS DOENTES
Somados os autólogos (com a medula do próprio
paciente), o Brasil fez 1.813 transplantes de medula óssea em 2013, 3,4% a mais
que em 2012. Os números são da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.
Para este ano, o Inca estima em 9.370 os novos casos de leucemia no país. A
batalha pela medula não é uma exclusividade dos pacientes com leucemia. O
aposentado Elvis Silva Magalhães, 47, mora em Brasília e demorou 38 anos para
conseguir receber a medula de um dos seus irmãos. O transplante ocorreu em 2005
e, segundo ele, resultou na cura de uma doença congênita, a anemia falciforme.
A cirurgia ocorreu num centro especializado em Ribeirão Preto (SP). A capital
brasileira não faz transplante alogênico. Elvis se livrou de transfusões de
sangue, úlceras e crises de dor decorrentes da doença. Agora, à frente da
Associação Brasiliense de Pessoas com Doença Falciforme, o aposentado tenta
convencer o Ministério da Saúde a editar uma portaria com protocolos para o
transplante de medula. Ele foi o segundo a ser transplantado no país, num
procedimento experimental. - É preciso, cada vez mais, fortalecer esse banco de
medula óssea e ampliar os registros - defende.
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