Política
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Presidente da Bolívia, Evo Morales, discursa após
ser reeleito
#COMENTÁRIO
Nos últimos vinte anos o continente
sulamericano tem visto crescer e avolumar a maré vermelha do esquerdismo
radical. Com métodos agressivos de abordagem a temas como direitos humanos e
trabalhistas, despertou forte aceitação nas classes sociais mais pobres dos
países em que se instalaram. No Brasil especificamente, um país de maioria católica,
onde os programas de exaltação dos pobres pelas Campanhas da Fraternidade que ela
coordena, incutiu na população a necessidade de se rebelar-se contra a simples
aceitação das imposições das classes mais evoluídas e ricas. O estímulo à busca
de melhorias trabalhistas jogou-os de encontro aos líderes aprendizes dos
movimentos esquerdistas que estavam se formando após o fim da Ditadura Militar.
Sem saber muito bem o que estava acontecendo, e pelas “coincidências” de fins,
acenderam ao movimento, engrossando-o e tornando cada vez mais poderoso até que
mais ou menos ao meio desse tempo transcorrido, assumiram o poder da república.
A partir daí, o caminho ficou
facilitado para o crescimento definitivo do tom vermelho em solo verde e amarelo.
Longe de ser um a unanimidade nacional, as esquerdas declaradas, agraciavam
seus eleitores ferrenhos com benécias baratas para os bolsos do governo, como
seu próprio líder, Lula, falava que “se enganavam os índios, dando-lhes
espelhinhos de presente”.
Durante esses quase vinte anos de
mandato da situação, a nação brasileira subdividiu-se politicamente em partidos
formados por dissidências dos partidos majoritários pós-militarismo. Os
políticos passearam de legendas em legendas até encontrarem satisfação a seus
anseios políticos e de projeção nacional, sem qualquer ligação ideológica.
Tudo veio transcorrendo dentro das
conformidades, mesmo com lances de muita discussão e agressões mútuas em suas
campanhas, até que ocorreram as prévias eletivas de dois mil de catorze, quando
tudo se explodiu em manifestações de desagravo entre pessoas da população. Isto
dividiu o País em três grandes correntes de pensamento, uma de esquerda que apoia
a situação, outra também de esquerda que é oposição ao governo e uma terceira
força ainda em formação que é composta de pessoas que desacreditam nos
políticos em cena, de ambos os lados, que discordam dos métodos, das finalidades
e dos meios usados para execução das proposições. E é exatamente com essa
terceira força que os políticos atuais devem se preocupar, devem reaprender a
negociar, a relacionar-se. Esse deverá ser o caminho que a América Latina deve
transcorrer...
#Disse
Carlos Leonardo
#CONVITE
Você consegue enxergar o surgimento dessa
força?
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SYLVIA COLOMBO - DE SÃO
PAULO - 01/11/2014
Quando conversou com a Folha, há
algumas semanas, em La Paz, o presidente da Bolívia, Evo Morales, ficou com os
olhos marejados ao lembrar de sua primeira eleição, em 2005, e a de colegas
esquerdistas que chegaram ao poder mais ou menos na mesma época — Hugo Chávez
(Venezuela, 1999), Lula (Brasil, 2002), Néstor Kirchner (Argentina, 2003),
Tabaré Vázquez (Uruguai, 2004) e Michele Bachelet (Chile, 2005).
"Sinto nostalgia. Era um tempo mais romântico,
de entusiasmo popular e dificuldades. Agora o momento é outro, e exige mais
pragmatismo", declarou o ex-líder cocaleiro, que iniciará um novo mandato
no próximo dia 22 de janeiro.
As recentes reeleições de Morales e Dilma Rousseff
(Brasil), a vitória no primeiro turno, e com grandes chances de consolidar-se,
de Tabaré Vázquez (Uruguai), e os primeiros seis meses da gestão Bachelet
(Chile) expõem os novos desafios da esquerda latino-americana. Já sem o cenário
de bonança econômica da década do "boom das commodities", alguns
países tiveram crescimento de 8,9% de média, os líderes da que ficou conhecida
como "nova esquerda latino-americana" estão diante de um novo cenário
internacional de desaceleração. Para analistas ouvidos pela Folha,
serão tempos de maior polarização da sociedade, mais pragmatismo na área
econômica e mais necessidade de alianças e negociação nos parlamentos. Afinal,
com exceção da Bolívia e do Chile, os demais terão um apoio mais pulverizado no
Congresso. Por exemplo, pesquisa recente (Poliarquia) aponta que a Argentina
pode ter, pela primeira vez na história, uma disputa de segundo turno em 2015,
tamanha a polarização da sociedade e a cisão dentro do próprio peronismo. Força
política dominante nos últimos dez anos, o kirchnerismo , vertente peronista,
governou com ampla maioria no Congresso, sem necessidade de negociar apoios.
"Na verdade, não temos tradição nesse tipo de alianças, a última vez foi
em 1999, com o governo da Frepaso, Fernando de la Rúa, e as consequências foram
nefastas, queda do governo em 2001, default e prolongada crise econômica",
disse o analista argentino Martín Dinatale. A mesma pesquisa apontou que a
presidente Cristina Kirchner está com uma imagem positiva de 40%, isso mesmo
com um cenário econômico de alta inflação 30%, segundo consultoras
independentes e baixo crescimento -1,7% de acordo com projeção do FMI.
"Por que esse apoio ao kirchnerismo e por que
as reeleições de Morales, Dilma e Tabaré? Porque as sociedades desses países
veem uma melhora na última década e preferem não mudar. São conscientes de que
há dilemas econômicos adiante, mas, frente à perspectiva de perder os
benefícios sociais da última década, consideram mais seguro não colocar as
conquistas em risco", diz o argentino Juan Tokatlian, diretor do
departamento de estudos internacionais da Universidade Torcuato di Tella. "A
esquerda soube apropriar-se da bandeira do combate à desigualdade, realidade
compartilhada por todos esses países. E os eleitores reagiram agora de forma
pragmática, para não perder benefícios diante de um quadro que pode não ser tão
favorável no futuro. Quem vota na esquerda, hoje, não quer revolução, mas
manutenção, melhorar o que já está. Foi sobre essa ideia que o Chile elegeu
Bachelet novamente", diz o chileno Guillermo Hollzman, da Universidade de
Valparaíso.
A presidente chilena, agora em seu segundo mandato,
o primeiro foi entre 2006-2010, depois sendo sucedida pelo conservador
Sebastián Piñera, anunciou um pacote de reformas política, educacional e fiscal
e a votação de uma lei de aborto. Seu novo governo tem sido avaliado como mais
à esquerda do que sua gestão anterior.
"As leis de direitos civis, nas quais o
Uruguai se destaca, se transformaram em pontos importantes da pauta das
campanhas, até mesmo na Bolívia, que é mais conservadora nesse ponto. Trata-se
de um fenômeno recente e um sinal de sofisticação política do eleitorado,
resultante de uma melhora na educação de um modo geral, alcançada na última
década", resume Hollzman. Assim como no Brasil, na Argentina e no Uruguai
o combate à corrupção se transformou em elemento essencial das campanhas mais
conservadoras. O caso do mensalão brasileiro, as acusações de enriquecimento
ilícito dos Kirchner e a falência da estatal uruguaia Pluna foram usados pelos
opositores dos governos eleitos. "Não estou seguro de que a corrupção é
uma arma eficiente nesse momento. Se ela não acarreta uma consequência direta
no cotidiano, se este se mostra 'vivível', a tendência é que não seja um
argumento tão mobilizador e não tenha o poder de definir uma eleição",
completa Tokatlian. "Além do mais, deixa uma sensação de preconceito por
parte das classes médias e altas com relação aos setores populares. Quando os
ricos acusam os governos que têm políticas assistencialistas de ‘corruptos’ fica uma imagem de pouca
solidariedade, de preconceito mesmo, com os mais desvalidos, também menos
capazes de governar, segundo eles", completa.
"Obviamente a sociedade não gosta da
corrupção, mas aparentemente resigna-se ao concluir que alguém tem de
governar", diz Hollzman. Os analistas concordam que os rótulos de
"bolivarianismo" e "chavismo" têm se transformado em ideias
mais distantes para os eleitores. "Ainda que muitos não admitam, há um
consenso de que esses líderes reeleitos não representam um risco muito grande.
Basta lembrar o medo que os empresários brasileiros tinham de Lula antes da sua
primeira eleição, ou da província de Santa Cruz, querendo a separação do resto
da Bolívia, em 2008. Hoje há uma espécie de consenso de que Dilma é
especificamente brasileira, Morales boliviano, Tabaré uruguaio, Bachelet
chilena, e que nenhum deles é um 'bolivariano' radical que gera desconfiança,
que oferece perigo", diz Tokatlian.
MERCOSUL
Já o Mercosul, dizem os analistas, provavelmente
será obrigado a uma reformulação. A Bolívia, que deve transformar-se em membro
pleno no ano que vem, já não quer depender tanto das exportações de gás natural
ao Brasil e Argentina, hoje, mais de 90% do que vendem para fora, que
apresentam cenário de baixo crescimento — e busca outros compradores na América
Latina, além de tratados com países europeus.
O Uruguai também deve buscar outros parceiros.
"Há um desgaste na relação com a Argentina, que impôs muitas medidas
protecionistas, e tanto Tabaré como Lacalle Pou, candidato oposicionista, do
partido Blanco, defendem um Mercosul mais flexível, com espaço para tratados de
livre-comércio com outros países de fora da região", diz Ricardo Lopez
Gottig, do Centro para la Apertura y el Desarrollo de América Latina.
Enquanto isso, Bachelet tem defendido uma maior
aproximação do Mercosul da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e
Peru). "A Aliança do Pacífico é mais ágil, mais voltada aos negócios, e o
Mercosul está muito apoiado numa identificação política e ideológica. Creio que
os líderes do Cone Sul se deram conta disso", diz Hollzman.
SUCESSÃO ARGENTINA
Para os especialistas, os resultados das eleições
latino-americanas deste ano terão impacto na próxima eleição argentina, em
2015.
Às vésperas do segundo turno brasileiro, podia
ver-se, em Buenos Aires, faixas nas ruas que diziam: "Si pierde,
perdemos" (associadas à imagem de Dilma Rousseff), colocadas por
apoiadores do kirchnerismo.
"A eleição brasileira se transformou numa
questão de política interna aqui, e dá novo fôlego ao kirchnerismo", diz
Tokatlian. Por enquanto, há dois pré-candidatos peronistas, não necessariamente
alinhados ao kirchnerismo, mas a uma vertente mais conservadora — o governador
Daniel Scioli e o prefeito do Tigre, Daniel Massa, além dos opositores Maurício
Macri (prefeito de Buenos Aires) e Ernesto Sanz, que sairia pela União Cívica
Radical.
O kirchnerismo ainda não decidiu se terá candidato
próprio ou se apoiará Scioli. "Os resultados no Brasil, na Bolívia e no
Uruguai vão animar os kirchneristas, que esperam um efeito contágio da esquerda
na região", diz Dinatale.
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