#COMENTÁRIO
Lendo esta reportagem, é impossível não parar para pensar em “PACMAN” um
bichinho esfomeado dos antigos games da criançada. Brincadeiras à parte, apesar
da esdruxulidade da tese, essa ideia de bactérias comendo partes de células
cancerígenas é algo a dar esperanças aos pacientes, muito embora deva ser algo
apavorador pensar em um bicho comendo partes de seu corpo.
Esperamos que esses ensaios apresentem logo resultados objetivos e
garantidos quando da sua utilização. Uma vez transpostas essas barreiras, não
deixará de ser um novo alento aos tão sofridos pacientes portadores de câncer.
#Disse
Carlos Leonardo
#CONVITE
Como você se sentiria
se tivesse um PACMAN percorrendo internamente seu corpo?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
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REINALDO JOSÉ LOPES - COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA - 14/08/2014
Injetar bactérias geneticamente modificadas num
tumor que já resistiu a vários tratamentos não parece a mais lógica das
abordagens, mas foi o que fizeram cientistas nos EUA – e com um grau
considerável de sucesso.
Ocorre que os micróbios são capazes de, ao mesmo tempo,
"comer" pedaços do tumor e evitar danos aos tecidos saudáveis do
paciente, mostra a pesquisa publicada na edição desta semana da revista
especializada "Science Translational Medicine". Os resultados, ainda
muito preliminares, apesar de encorajadores, foram obtidos em testes com ratos,
cães e com uma única paciente humana – outras pessoas devem participar dos
ensaios clínicos em breve.
"Ainda estamos na fase 1 dos testes clínicos,
cujo objetivo é verificar apenas se a terapia é segura. Ainda não temos como
comparar essa abordagem com outros tratamentos contra o câncer, e é cedo para
dizer quais tumores seriam mais vulneráveis a ela", disse à Folha o médico
Saurabh Saha, da empresa de biotecnologia BioMed Valley Discoveries. A firma
pretende transformar as descobertas em produtos caso tudo corra bem.
SEM AR
Saha e seus colegas desenvolveram sua própria
variedade, ou cepa, da bactéria Clostridium novyi, que pode causar infecções
graves em pessoas e animais. A questão, porém, é que se trata de um micróbio anaeróbico,
ou seja, que precisa de um ambiente pobre em oxigênio para se multiplicar. Foi
isso que levou os cientistas a pensarem nela como arma. É que o crescimento
desordenado dos tumores faz com que, no interior deles, surjam regiões cheias
de células com baixo suprimento de oxigênio – células que, aliás, são
resistentes à quimioterapia ou à radioterapia. Surgiu, portanto, a ideia de
enviar a C. novyi a essas áreas.
Antes disso, porém, os cientistas
"deletaram" parte do DNA da bactéria, um gene que normalmente permite
que o micróbio produza uma toxina bastante agressiva. As bactérias foram então
injetadas diretamente nos tumores – primeiro em ratos com uma forma artificial
e agressiva de câncer cerebral, depois em cães que tinham desenvolvido
naturalmente a doença e, finalmente, em uma mulher de 53 anos com um tipo de
câncer muscular, já em fase de metástase (espalhamento pelo organismo). A
abordagem dobrou a expectativa de vida dos ratos e eliminou ou reduziu bastante
o tumor em 40% dos cães. O tumor no ombro da paciente humana também ficou
praticamente destruído, sem células viáveis sobreviventes. "Até onde
sabemos, o mais importante para esse sucesso foi a injeção direta da bactéria
no tumor e a preferência dela por ambientes com pouco oxigênio", explica
Saha. Com isso, o micróbio atacou apenas a massa de células no interior do
tumor.
Houve efeitos colaterais em todos os casos, os
quais lembram muito uma infecção tradicional: inchaço, dor e febre.
"Quando a bactéria conclui seu trabalho, podemos controlá-la com
antibióticos tradicionais", diz o médico.
Para o biólogo Tiago Góss dos Santos, pesquisador
do A.C. Camargo Cancer Center, os resultados parecem promissores, em especial
por se tratar de um trabalho inicial. "É preciso levar em conta o fato de
que os tumores são muito heterogêneos, então é normal que uma única estratégia
não consiga destruí-los totalmente", explica. "A bactéria poderia ser
uma arma para reduzir o tamanho deles, sendo combinada a outras terapias que
atacariam as células tumorais que não estão sob essa condição de baixo nível de
oxigênio."
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