#COMENTÁRIO
Já era de se esperar que uma situação assim acontecesse em algum lugar
no mundo. Estou falando explicitamente da falseada na tomada de uma ação
definitiva qualquer por um governante de grande representatividade mundial. É
muito fácil se imaginar uma situação assim, os enormes movimentos de conchavos e
negociatas direcionadas para isto ou aquilo, certamente faria travar um sistema
todo baseado em decisões políticas calcadas nessas condições.
Parece-nos que a Argentina está bem no meio desse fogo cruzado.
Interesses outros colocam a empresa Singer e Obama frente a frente em decisão a
ser tomada a favor ou contra a endividada Argentina. Muito provavelmente o
presidente americano está de mãos amarradas por esse esquema por trás das
cortinas e não poderá aparecer como o Capitão América em ajuda à pobre
Argentina...
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: Folha de São Paulo
#CONVITE
O que você acha
desses conchavos tão comuns nos meios políticos em geral?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
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GREG PALAST - DO
"GUARDIAN" - 08/08/2014
O financista "abutre" que
está ameaçando devorar a Argentina poderia ser detido por um simples bilhete do
presidente Barack Obama aos tribunais norte-americanos. Mas o presidente,
embora oficialmente apoie a Argentina, não fez a única coisa que poderia salvar
Buenos Aires de um calote. Obama poderia impedir que Paul Singer, bilionário
controlador de fundos de hedge predatórios, recebesse nem que apenas um centavo
da Argentina: bastaria invocar a autoridade, firmemente estabelecida, que a
cláusula de separação de poderes da constituição norte-americana confere aos
presidentes. Sob o princípio conhecido por "cortesia" ou
"cortesia tradicional", basta que Obama informe ao juiz federal
norte-americano Thomas Griesa que o processo de Singer interfere com a
autoridade exclusiva do presidente para conduzir a política externa do país. Caso
encerrado. De fato, o presidente George W. Bush fez uso desse poder contra o
mesmo fundo de hedge que hoje ameaça a Argentina. Bush bloqueou o confisco de
propriedades da República do Congo nos Estados Unidos em benefício de Singer, a
despeito de o proprietário do fundo ser um dos maiores e mais influentes
contribuintes de verbas de campanha para candidatos republicanos. É importante
apontar que um tribunal de recursos, 30 dias atrás, alertou o juiz Griesa de
que este deveria respeitar a diretiva presidencial de invocação de seus poderes
de política externa. No caso de Singer, o Departamento da Justiça
norte-americano informou ao juiz que o governo Obama concordava com a
argumentação legal da Argentina; mas o presidente jamais invocou a mágica
cláusula que deteria o abutre.
HESITAÇÃO
A devastadora hesitação de Obama não é
surpresa. Repete a capitulação do presidente diante de Singer em seu último
confronto direto. Foi em 2009. Singer, por meio de uma manobra financeira
brilhantemente complexa, tomou o controle da Delphi Automotive, fornecera
exclusiva de muitas das autopeças necessárias à General Motors e Chrysler. As
duas gigantes dos automóveis já estavam em concordata. Singer e seus
co-investidores exigiam que o Tesouro dos Estados Unidos lhes pagasse bilhões -
o que incluía US$ 350 milhões em pagamento imediato - ou, ameaçou o financista,
"vamos forçá-los a fechar". A Delphi suspenderia o fornecimento de
peças à GM. A GM e a Chrysler, que tinham apenas dois dias de peças em seus
estoques, teriam de paralisar suas atividades, entrariam em liquidação forçada.
O negociador de Obama, o secretário assistente do tesouro Steven Rattner,
classificou a demanda dos fundos abutres como "extorsão" - a mesma
caracterização de Singer que a presidente argentina Cristina Fernández de
Kirchner repetiu na semana passada. Mas enquanto Cristina declarou que
"não posso, como presidente, submeter o país a essa extorsão", Obama
não demorou a ceder. O Tesouro dos Estados Unidos terminou por discretamente
pagar generosos US$ 12,92 bilhões ao consórcio de Singer, em dinheiro e
subsídios do fundo de resgate automobilístico do Departamento do Tesouro. Singer
respondeu à generosidade de Obama fechando 25 das 29 fábricas de autopeças da
Delphi nos Estados Unidos e transferindo 25 mil empregos para a Ásia. A Elliott
Management, de Singer, embolsou 1,29 bilhão, e Singer abocanhou a fatia do leão
desse dinheiro.
MOTIVOS
No caso da Argentina, Obama certamente
tem motivo para agir. O Departamento de Estado norte-americano alertou o juiz
de que acatar as teorias legais de Singer colocaria em risco os acordos de
resgate para dívidas nacionais em todo o planeta. E de fato há informações de
que, em 2012, Singer se uniu a outro investidor abutre bilionário, Kenneth
Dart, para extorquir um imenso pagamento do governo grego durante a crise do
euro, ameaçando criar uma quebra coletiva de bancos na Europa. A imprensa
financeira se voltou contra Singer. Colunistas do "Wall Street
Journal" e do "Financial Times" estão furiosos diante da
quixotesca reinterpretação dos termos de empréstimos internacionais pelo
financista, que se parece com a interpretação do Taleban para um tratado de
paz. Sem paz, sem acordo. Singer certamente batalhou para conquistar suas penas
de abutre. Seu ataque à República do Congo abocanhou verbas de assistência
bancadas pelos contribuintes norte-americanos e britânicos, e a Oxfam diz que
suas ações solaparam a capacidade do país para combater uma epidemia de cólera.
(O porta-voz de Singer respondeu que foi a corrupção do governo da República do
Congo, e não os processos judiciais dele, que empobreceu o país.) Como se
buscando reforçar suas credenciais de sujeito durão, Singer montou ataques
judiciais ao JP Morgan Chase, Citibank, BNY Mellon e UBS, exigindo que os
bancos lhe transfiram o dinheiro pago pela Argentina a eles nos últimos 10
anos. Além disso, os advogados de Singer persuadiram o juiz a impedir que o BNY
Mellon, que age como agente da Argentina, pagasse US$ 500 milhões a detentores
de títulos de dívida argentinos. Ou seja, o presidente norte-americano
certamente deveria intervir. Não o fez. Por quê?
Não sou psicólogo. Mas disso sabemos:
desde que decidiu encarar a Argentina, Singer abriu as portas de sua bilionária
conta bancária e se tornou o maior doador às causas do Partido Republicano em
Nova York. Fundou o Restore Our Future, um clubinho para bilionários,
canalizando os fundos de Bill Koch e dos demais riquinhos republicanos a um
fundo de campanha temível, usado para bancar anúncios malévolos de ataque
político. E Singer recentemente doou US$ 1 milhão à Crossroads, outra
organização de ataque político dirigida por Karl Rove.
Em outras palavras, contrariar Singer
tem um preço. E, ao contrário da presidente da Argentina, Obama não parece
disposto a pagá-lo.
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