Policiais militares durante ronda no Complexo do Alemão
Daniel Marenco/Folhapress
#COMENTÁRIO
Nós brasileiros temos um grande mal como
tradição que é a autosuficiência pós ato consumado. Assim que conseguimos
sucesso no objetivo e na mídia, temos a tendência nata de relaxamento, de não
perseverança. Tudo, mas tudo mesmo no Brasil é assim.
Exemplo disso é esse caso das UPPs no
complexo do Alemão no Rio de Janeiro. Tanto trabalho, tanta divulgação em toda
mídia, tanto oba-oba e assim que os resultados ficaram latentes, a bandidagem se
disseminou, retiramos os executantes da façanha e os substituímos por um grupo
que não detinha os méritos do sucesso obtido e ainda por cima tinham um efetivo
muito reduzido em relação aos primeiros. E isso foi um fator decisório na
retomada do poder pela bandidagem, o corpo presente das Forças Armadas. Eles
impõem respeito pela simples presença, por haver um tarja invisível na testa de
cada elemento escrita “Incorruptível”. Ainda bem que temos essa valorização ao
menos às Forças Armadas.
Não tarjando a PM como corruptível, mas
expondo que as condições em que ela opera são desiguais com relação ao Exército.
Começa com a hierarquia de comando que é composta de muitos degraus e subalternas
aos interesses e poder dos Estados. Os Estados sofrem de inferência política e
não têm autonomia na legislação brasileira. Não parece haver um interesse maior
por parte da Nação em extinguir essas quadrilhas que operam em todos Estados
unidos ou não a grupos de traficantes. Temos que mudar isso senhores
candidatos!
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: A Folha de São Paulo
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MARCO ANTÔNIO MARTINS - DIANA
BRITO - DO RIO - 04/08/2014
No último mês de julho, em todos os
dias houve ao menos um tiroteio em algum ponto do complexo do Alemão, zona
norte da cidade. Considerada pelo governo do Rio como estratégica no projeto
das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), a comunidade vive o retorno à
rotina de violência. Policiais militares das quatro UPPs do conjunto de favelas
– que, juntas, formam a maior unidade do programa de pacificação – já não
patrulham toda a região.
À Folha, reconheceram: não vão a becos para evitar confrontos,
lembrando o período em que o lugar era território dominado pelo tráfico. A
preocupação com a segurança também faz parte da rotina do delegado Felipe Curi,
da delegacia instalada na comunidade, que só chega ou sai de lá em carro
blindado. De janeiro a julho, seis moradores morreram vítimas de tiroteios
entre policiais e traficantes. Catorze PMs ficaram feridos e dois morreram. Em
2013, no mesmo período, não houve vítimas.
A situação atual na favela coloca em
xeque o principal programa da área de segurança do governo do Rio.
Uma investigação da Polícia Civil
identificou 40 menores envolvidos com o tráfico. O reforço do Bope (Batalhão de
Operações Especiais) no efetivo da UPP, além de uma operação com 500 policiais
e nenhum preso, há duas semanas, só aumentaram a tensão na região. A Folha apurou que é consenso na
Secretaria de Segurança que o problema começou em abril de 2012, pouco depois
da ocupação do complexo de favelas, quando o Exército passou o comando do
Alemão ao governo. O efetivo do Exército era de 1.800 militares, o que
possibilitava ter sempre 1.200 por dia no patrulhamento. A PM tem 1.400 homens
no local. Mas, com a escala de folgas de um dia de trabalho e três de folga,
há, no máximo, 350 policiais simultaneamente na favela.
Com o início da crise, esse contingente
foi reforçado para 450 PMs, mas não foi o suficiente para mudar o cenário.
"O Exército tinha efetivo para
sufocar o tráfico; a PM não tem. Na nossa época, ocupávamos os pontos mais
altos e a ação dos criminosos era inibida", afirma o coronel Fernando
Montenegro, que por quase dois anos esteve na ocupação do Exército. Outros
problemas são apontados internamente. Entre eles, a falta de investigação dos
criminosos que foram expulsos durante a ocupação e permanecem em liberdade - muitos
patrocinam as ações de retomada de território. Desesperados, moradores foram às
redes sociais lançar as campanhas "Paz no Alemão" e "SOS
Complexo do Alemão". A apreensão esta semana, pela Polícia Civil, de uma contabilidade
de traficantes reforça a tese de que a volta da ação armada ao local é real.
Em folhas de caderno escritas a caneta,
aparecem a destinação de R$ 30 mil para a compra de um fuzil G3 e de mais R$ 30
mil para pistolas - segundo policiais, com esse dinheiro seria possível
adquirir dez pistolas. A contabilidade, segundo a anotação, é de 8 de junho e
destina R$ 194 mil para o Comando Vermelho. O complexo de favelas sempre foi
considerado o QG dessa facção criminosa. As polícias Civil e Militar receberam
a informação que, no último dia 24, um carregamento com armas e munição chegou
às mãos dos traficantes. PMs estão sendo investigados por suspeita de não
reprimirem o tráfico local. "Me preocupa o que acontece hoje no Alemão. O
Estado ainda não encontrou uma resposta à altura", disse o coronel Mário
Sérgio Duarte, comandante da PM do Rio na invasão ao conjunto de favelas em
2010.
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