Sociedade
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Muggah defende que novas tecnologias permitem ao
cidadão combater a violência
#COMENTÁRIO
Não só parece, mas está mesmo. As
pessoas mais velhas, já mais vividas, são um consenso sobre as origens de toda
essa violência que se instalou no Brasil. Acham eles que perderam-se os valores
morais e cívicos, consequentemente houve a inversão desses valores de como
existia, inicialmente passou-se a valorizar a malandragem, o jeitinho
brasileiro de lidar com as coisas, isto é “levar vantagem em tudo”, como
ingenuamente a mídia alastrava à uma geração em crescimento. Isto foi só
estopim para a criação do estado de calamidade que hoje vivemos. A isso, soma-se
a mídia televisiva quebrando costumes, tradições e respeito ao próximo.
A geração que hoje aí está determinando
os rumos do País, cresceu quase sem esses parâmetros que norteavam a convivência
das pessoas. Hoje elas confundem liberdade de expressão com balbúrdia, e o
pior, acham isso normal, de direito.
Preocupa-nos que seus filhos já estão
crescendo com esses valores invertidos, já não sabem definir o que é certo ou
errado, não respeito pela vida, nem pela vivência. Não têm reconhecimento de
civilidade, confundem isso com cantar errado o Hino Nacional em estádios de
futebol...
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: BBC
Brasil
#CONVITE
O que você acha de se fazer um estudo
mais aprofundado nas causas e não nos efeitos da violência no Brasil?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
Camilla
Costa e Rafael Barifouse – da BBC Brasil no Rio de Janeiro e em São Paulo
Nos últimos três anos e meio em que vive no Brasil,
trabalhando como diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, um dos principais
centros de estudos do mundo sobre segurança pública, o canadense Robert Muggah
passou a conhecer de perto o problema da violência no país.
Antes
disso, Muggah já havia acumulado um grande conhecimento sobre segurança
pública, ao estudar o assunto em seu doutorado em Oxford e ao trabalhar em
projetos de combate à violência em mais de 50 países. É com base nesta
experiência acumulada que ele trouxe boas e más notícias ao TED Global (Technology, Entertainment, Design),
conferência de projetos e ideias inovadoras atualmente em curso no Rio de
Janeiro. A má notícia é que ele vê um aumento da violência no Brasil e que o
país está no caminho inverso ao de várias partes do mundo onde as taxas de
criminalidade vêm caindo. A boa notícia é que, com a internet, a imensa
quantidade de dados hoje disponíveis e as tecnologias digitais, todo brasileiro
pode contribuir com o combate à violência.
A seguir,
ele explica como.
O que o
cidadão comum podem fazer para combater a violência?
Estamos
num momento da história em que, em um ano, são gerados mais dados do que todos
os dados disponíveis nos dois mil anos anteriores. Isso está gerando
oportunidades enormes para cidadãos usarem informações de novas formas. Uma
delas é usar este grande volume de dados para entender tendências, como, por
exemplo, a distribuição da violência. Um exemplo é a ferramenta que criamos que
mostra as importações e exportações de armas e munição no mundo desde 1992. Estes
dados estão disponíveis publicamente na ONU, mas ninguém havia pego e feito
algo com isso. Três meses depois do lançamento, tivemos 5 milhões de visitas, o
que mostra que há um grande interesse por isso, não só entre ativistas e
governos, mas em outros setores da sociedade. A segunda forma é por meio de
novas ferramentas colaborativas para buscar soluções para a violência
coletivamente. No México, por exemplo, houve um apagão na mídia sobre este
assunto, porque, ao falar da violência, os jornalistas e blogueiros se tornam
alvos dos cartéis. Muitas organizações se uniram para substituir a mídia e
informar onde é seguro de se estar ou não. Quando há um tiroteio, a mídia pode
não falar disso, mas há posts no Facebook e no Twitter sobre o assunto.
Isso pode
ser reunido e divulgado por estes novos centros de informação. O mesmo ocorreu
no Quênia, onde os cidadãos passaram a monitorar a violência por conta própria.
Isso permite criar informação em tempo real, de forma interativa e com a ajuda
não de poucas pessoas, mas de toda a população. Isso não era possível há dez
anos.
Em terceiro
lugar, é possível criar programas para celular para ajudar as pessoas a se
protegerem. Há exemplos de sistemas de alarme, em que você pode usar o telefone
para chamar a polícia sem que isso seja notado, enviar uma mensagem com um
pedido de socorro, disparar uma sirene. Há um grupo no Egito que monitora a
violência sexual. E estas ferramentas alimentam os sistemas dos quais já
falamos.
Especialmente
depois dos protestos, a violência policial passou a ser mais debatida. Como
podemos nos proteger deste tipo de violência?
Essa é
uma questão importante ao redor do mundo. Hoje, as pessoas são menos tolerantes
com a violência policial. Mais casos vêm mais à tona, e as pessoas debatem mais
sobre isso. O Brasil tem uma das polícias mais violentas do mundo. A ONU repete
isso sempre. Uma coisa que se pode fazer é usar a tecnologia e os dados. No ano
passado, analisamos os posts em redes sociais para ver se há uma relação entre
os Black Blocks e outros grupos afiliados e a brutalidade policial, porque a
imprensa dizia que os Black Blocks estavam forçando a polícia a ser violenta.
Rastreamos
milhões de posts para entender a reação gerada sempre que havia um incidente de
violência policial. Mostramos que, quando a polícia usava mais força, a
influência dos Black Blocks crescia. Então, fomos à Polícia Militar para
mostrar isso.
Eles se
impressionaram, porque não tinham a capacidade de fazer esta análise por conta
própria. Mostramos que talvez fosse necessário abrir canais de negociação,
porque a força não era uma alternativa. Então, a sociedade pode fazer o mesmo e
levar estas informações para a internet para criar um debate. Os dados gerados
hoje permitem fazer isso.
Houve uma
resposta prática da polícia quanto aos Black Blocks?
Foram
criados times especiais para negociar com os manifestantes. Os cidadãos podem
fazer o mesmo. Hoje, existem ferramentas para que cidadãos denunciem o abuso
policial. Nos Estados Unidos, o uso de câmeras no corpo dos policiais é
obrigatório em 20 Estados. Mas é preciso ter muito cuidado com isso, porque não
queremos que estas ferramentas sejam mal usadas. Então, estamos fazendo um
teste com muito cuidado nas UPPs para ver se funciona. Mas sabemos, por
exemplo, que fazer com que policiais usem câmeras gerou na Califórnia uma redução
de 75% nas queixas contra violência policial e uma queda de 65% nas denúncias
contra este tipo de conduta.
Claro que
a Califórnia não é o Brasil, mas existe por lá um problema sério de abuso de
força por policiais contra minorias. O importante é que estamos reunindo dados
e fazendo pesquisas para ver se isso funciona, porque se trata de uma nova
fronteira.
Imagino
que o senhor esteja acompanhando as eleições no Brasil. O que o senhor acha da
forma como a segurança pública vem sendo debatida?
A
segurança pública esteve praticamente fora dos debates. Isso é uma vergonha,
porque houve uma grande mudança nos últimos anos, e o público está mais atento a
esta questão. Também porque há algo errado no Brasil nesta questão.
Houve
avanços em São Paulo, Rio e Pernambuco. Mas, de forma geral, as taxas de
assassinatos e outros tipos de crime continuam a aumentar. O Sul está um pouco
mais seguro, mas o Norte está mais inseguro.
É uma
loucura que 13 das 50 cidades mais inseguras do mundo estejam no Brasil. Parece
que a violência está fora do controle. Então, seria de se esperar que o assunto
receberia mais atenção. Mas sabemos que, em qualquer eleição presidencial, o
debate sobre segurança pública é algo muito perigoso para os candidatos. Não
vale a pena debater ou fazer muitas promessas sobre esta questão.
Quais
deveriam ser as prioridades de segurança pública do próximo presidente do país?
Em
primeiro lugar, criar um sistema de informação mais eficiente sobre homicídios,
violência policial, a população prisional. Hoje, temos é uma colcha de
retalhos, em que alguns Estados têm dados enquanto outros não.
É
impossível ter uma política séria sem dados de qualidade. É como com o câncer.
Como você pode tratar uma doença sem diagnosticá-la? Nos dois casos, a
informação de qualidade é algo crítico. Também é necessária uma estratégia
nacional para homicídios no país. Ter 56 mil mortes por ano é inaceitável. E
está aumentando, enquanto está caindo na maior parte do mundo. Em terceiro
lugar, precisamos repensar a política de drogas. Não que eu defenda a
legalização ou sequer a regulamentação. Defendo uma abordagem mais humana, em
que tratamos viciados como pacientes em vez de jogá-los na prisão. O sistema
criminal no Brasil hoje favorece quem é branco e tem dinheiro, enquanto que os
mais pobres ou negros são jogados na prisão e têm suas vidas arruinadas.
Precisamos ter um debate nacional sobre este assunto, porque o problema com as
drogas é inevitável. Não podemos apenas tentar controlar isso nas fronteiras. Em
quarto lugar, é preciso reformar a Polícia. Não sei como isso deve ser feito,
mas todos, até mesmo a polícia, concordam que a estrutura atual não funciona.
Não há como você ter uma polícia investigativa tão distante da polícia
ostensiva. É uma contradição que leva à impunidade, porque os casos são mal
investigados.
Por fim,
é preciso uma estratégia de segurança publica, com uma instituição pública
federal dedicada a este assunto. Não é necessariamente o caso de criar um novo
ministério, como está sendo feito em outras partes da América Latina. Mas
talvez seja hora do Brasil centralizar a responsabilidade sobre isto, para
gerenciar a prevenção de violência, a política de drogas. Para haver coerência
no que é feito.
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