domingo, 5 de outubro de 2014

'O mundo não está tão ruim quanto o Brasil', afirma Arturo Porzecanski


Política



 Arturo Porzecanski, diretor do Programa de Relações Econômicas Internacionais da American University


#COMENTÁRIO

É muito bom a gente ler algo analisado friamente, sem interesse outros que possam desviar uma real análise da situação do País. É muito interessante que se publiquem análises derrotistas para atender a alas que querem apontar um mandato político desastrado e da mesma forma, não deixa de ser interessante que a análise publicada pinte de cores vibrantes a olhos incautos, desinformados e alienados do contexto econômico mundial, por analistas ligados ao sistema político no poder.
Lendo este artigo que Arturo Porzecanski, um economista-chefe da American University, cede ao jornal Folha de São Paulo, ele dá-nos uma visão fria e analítica da relação Brasil/mundo no contexto econômico. É possível ver um Brasil sem representatividade no mundo, perdendo terreno em todos os campos econômicos e os reflexos das camuflagens contábeis que o negativam aos olhos da macroeconomia mundial. As explicações e justificativas a nós passadas pela política econômica nacional não refletem a real situação do mundo lá fora, onde o arrocho econômico mundial arrefeceu o crescimento, mas não o paralisou enquanto nós iniciamos uma marcha à ré em nosso crescimento econômico, os custos produtivos não se adequaram e começamos a perder mercado lá fora. Politicamente, não queremos comercializar com os EUA e não podemos fazer frente ao mercado europeu.
Vale a pena ler a reportagem anexa abaixo.

#Disse

Carlos Leonardo



#CONVITE

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RAUL JUSTE LORES - DE WASHINGTON - 04/10/2014

"O mundo está colocando o polegar para baixo ao pensar no Brasil e quem se eleger vai ter muito trabalho em mudar essa percepção", diz o economista Arturo Porzecanski, 65, que há 37 anos estuda a América Latina.
O uruguaio foi economista-chefe dos bancos J. P. Morgan, ABN-Amro e Ing-Barings por quase três décadas e desde 2005 dirige o Programa de Relações Econômicas Internacionais da American University.
Ele acha que o Brasil "andou para trás" em inflação e protecionismo, considera que o BNDES "não tem nada a ver com a escolha de campeões nacionais da Coreia" e que o país precisa "desesperadamente achar novos mercados". "O Brasil está jogando na terceira divisão", diz.
Porzecanski diz que o sucesso do Bolsa Família só será verificado "quando menos gente precisar dele, o número de famílias atendidas precisaria cair". Ele recebeu a Folha em seu escritório, em Washington.
Confira abaixo a íntegra da entrevista, em tópicos:
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BRASIL DESAPRENDEU
O Brasil desaprendeu a fazer mudanças e está andando para trás. O Brasil diz gostar de gradualismo, mas fez mudanças muito rápidas no passado. O Plano Real foi economia vudú, ortodoxa e heterodoxa ao mesmo tempo, e em dois anos controlou a inflação. O Bolsa Família e os planos sociais do Lula ficaram em pé já nos primeiros dois anos. A abertura econômica de um país que tinha um mercado fechado até para computadores foi bem rápida. Quem vencer as eleições vai ter que reaprender a fazer mudanças rápidas.
ANDANDO PARA TRÁS
Em várias coisas, a Dilma fez o Brasil andar para trás. Em 1999, Armínio tinha um plano ambicioso de metas e muito rapidamente respondeu à crise cambial. O Lula em meses dissipou a dúvida que havia sobre ele e deu luz verde para o Henrique Meirelles.
Com Dilma, o Banco Central andou para trás. O BC foi incentivado a fechar os olhos para a inflação, bem acima da meta, dá para passar um ônibus por essa meta agora. A Petrobras perde muito dinheiro para mascarar a inflação real. As contas públicas pioraram e a qualidade dos dados com manipulação contábil. Sem falar no abuso do BNDES.
BNDES E COREIA
Acho engraçado compararem a política industrial do BNDES com a escolha de campeões nacionais pela Coreia do Sul. A Coreia ofereceu subsídios para as empresas que produziam carros, eletrônicos e afins que conseguissem exportar para os mercados americano e europeu. Ela não substituiu importações, ela promoveu exportadores. Mas havia metas e prazos. O governo ajuda a empresa por "x anos" e depois ela tem que devolver essa ajuda.
Essa política hoje seria impossível, pois a OMC [Organização Mundial do Comércio] proíbe subsídios para exportações. Esse modelo é de outra época. Mas não dá para comparar o BNDES com a Coreia. Quais foram as metas para o Eike Batista? E para os frigoríficos?
INTERVENCIONISMOS
O Obama subvencionou empresas de energia solar, sem muito sucesso, mas era algo para a economia do século 21. O BNDES subvencionou a economia do século 19.
Existem intervencionismos e intervencionismos. O Tesouro americano emprestou para a indústria automobilística de Detroit e para a seguradora AIG quando ninguém queria emprestar, e recebeu de volta com muitos juros. O que o BNDES vai receber do Eike? É como se o FMI [Fundo Monetário Internacional] emprestasse para países quebrados como Argentina e Venezuela sem nenhuma contrapartida.
MUNDO SEM ESTAGNAÇÃO
A maioria dos países do mundo anda crescendo menos do que já cresceu. Fato. Não é mais bonança. Mas o Brasil desacelerou bem mais que os demais. O mundo não está tão ruim quanto o Brasil. O mundo não está em recessão, nem estagnado.
CÁLCULO DO BOLSA FAMÍLIA
México, Argentina, Brasil fizeram seus Bolsas Família. No início, uma marca de sucesso é ampliar as famílias cobertas. Mas o verdadeiro sucesso, que não vejo no modelo brasileiro, é quando o número de famílias que precisam dessa ajuda cair de fato. Se elas acham emprego, se têm salários melhores, esse número deveria cair. Isso não está acontecendo.
FED EM 2015
O Fed [o Banco Central americano] está fazendo o seu trabalho, sem ser brusco. Em maio de 2013, Ben Bernanke [ex-presidente do Fed] disse que os estímulos seriam reduzidos. O roteiro está sendo seguido pela Janet Yellen [atual presidente] paulatinamente. A inflação está abaixo da meta e os juros vão subir um pouco. Não acho que o Brasil será afetado bruscamente. 80% do destino do Brasil está no Brasil, não está nos EUA ou na China.
MERCOSUL E 3ª DIVISÃO
O Brasil precisa correr para achar novos mercados. A aposta na OMC com o Azevedo ainda não rendeu. O regionalismo e o Mercosul não rendem mais. A negociação com a União Europeia é brecada pela Argentina. Até quando o Brasil vai esperar pela Argentina? Não quer negociar com o império, com os EUA? Ok, mas procura outros. China, Índia e outros emergentes até menores têm suas agendas e querem achar mais mercados. Não dá para entrar para jogar só se for ganhar. Parece que o Brasil tem medo e se contenta ficar jogando na terceira divisão. 


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