#COMENTÁRIO
Um problemão de tamanho sem medida. Se por
um lado cada um faz o que bem entender consigo próprio e não devemos
interferir, por outro, espertalhões
lucram muito com a disposição e desinformação
dessas pessoas.
O mercado negro de órgãos é um grande problema acima de tudo
pelo fato de não ter limites, incluem pessoas simples em desespero, normalmente por falta de dinheiro, crianças que não têm
como se defender ou opinar. Estas últimas é que são, a raiz do problema, a extração de um órgão compromete o
desenvolvimento dela e pode até torná-la passível de problemas maiores quando
adulta, aí então muito provavelmente não terá quaisquer condições de refazer o mal a que foi sujeita.
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: Folha
de São Paulo
#CONVITE
Como você vê a exploração de doadores e a
venda de órgãos?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
KEVIN
SACK - DO "NEW YORK
TIMES" - 09/09/2014
Tirando o valor cobrado, quase US$ 200 mil, o
surpreendente foi como foi fácil para Ophira Dorin comprar um rim.
Dois anos atrás, diante da perspectiva de passar
anos fazendo diálise, Dorin começou a procurar um intermediário que pudesse
ajudá-la a furar a longa fila de espera por órgãos para transplante em Israel.
Sem conseguir encontrar doador compatível entre familiares e amigos, ela
encarava uma batalha diária contra a náusea, exaustão e depressão. Em pouco
tempo sua família descobriu três nomes: Avigad Sandler, ex-corretor de seguros
suspeito de tráfico; Boris Volfman, emigrado ucraniano e protegido de Sandler,
e o empresário Yaacov Dayan.
Como o New York Times descobriu em uma investigação
sobre o comércio global de órgãos para transplante, os três homens estavam
entre os maiores operadores no mercado israelense clandestino de rins. Há anos
eles embolsam valores enormes por organizar transplantes no exterior para
pacientes que recebem seus rins novos de doadores estrangeiros, conforme
mostram documentos. A Organização Mundial da Saúde estima que a oferta de
órgãos transplantáveis não satisfaz um décimo da demanda. Especialistas dizem
que milhares de pacientes por ano provavelmente recebem transplantes ilícitos
no exterior. Quase sempre as pessoas que vendem seus órgãos são pobres e mal
informadas sobre os riscos. Uma análise feita pelo NYT dos maiores casos de
tráfico de órgãos desde 2000 sugere que israelenses exerceram um papel
desproporcional na atividade. Isso se dá em parte porque restrições religiosas
relativas à morte e à profanação mantêm os índices de doação de órgãos de mortos
em níveis tão baixos que alguns pacientes sentem que não têm alternativa senão
procurar em outra parte.
"Quando uma pessoa precisa de um transplante
de órgão, ela faz tudo o que estiver a seu alcance" para consegui-lo,
disse Meir Broder, alto assessor jurídico do Ministério da Saúde israelense. O
desespero se evidenciou no funcionamento do canal de turismo de transplantes
que levou Ophira Dorin e outros pacientes estrangeiros a Costa Rica entre 2009
e 2012. O NYT rastreou a rede de San José, a capital de Costa Rica, até Ramat
Gan, distrito comercial movimentado próximo a Tel Aviv. O governo
costa-riquenho não sabe ao certo quantos estrangeiros receberam transplantes de
órgãos de origem suspeita. Mas o NYT identificou 11 pacientes - seis
israelenses, três gregos e dois residentes americanos - que viajaram a San José
para fazer transplantes de rins obtidos de moradores locais. Dois outros
israelenses localizados trouxeram doadores de Israel com eles. A rede foi
criada por um grupo de participantes que incluiu intermediários israelenses
ricos, um nefrologista costa-riquenho e intermediários que recrutavam doadores
em um táxi e uma pizzaria. Quatro pacientes israelenses ou fontes próximas
deles identificaram Yaacov Dayan, conhecido como Koby, como sendo quem os levou
à Costa Rica. As autoridades costa-riquenhas investigam a operação há mais de
um ano. Mas não está claro se a polícia costa-riquenha ou israelense já
vinculou os transplantes a Dayan ou outros intermediários israelenses.
A família de Ophira Dorin foi encaminhada a Avigad
Sandler, que disse estar enviando clientes ao Sri Lanka por US$ 200 mil em
dinheiro vivo, Dorin contou. Os colegas de trabalho da paciente promoveram um
evento para levantar fundos, e seus pais refinanciaram sua casa.
Um cambista disse à mãe de Dorin que seu tio tinha
feito um transplante de rim no Sri Lanka por menos dinheiro que isso. O
intermediário usado pelo tio em questão, Boris Volfman, pediu US$ 10 mil à
vista e disse a Dorin que ela teria que levar os outros US$ 150 mil ao Sri
Lanka. No dia seguinte a polícia israelense prendeu Volfman, Sandler e outros
por suspeita de tráfico de órgãos. As suspeitas não tinham relação com o caso
de Dorin.
O revés durou pouco tempo. Foi organizado um
encontro com Dayan, que, segundo Dorin, disse que um transplante na Costa Rica
sairia por US$ 175 mil. Ele tomou o cuidado de não especificar que esse valor
incluiria um rim. "Mas ficou subentendido que o pagamento abrangeria tudo,
incluindo o órgão", disse Dorin.
Ela contou que parte do dinheiro foi transferida
eletronicamente para um hospital em San José e que ela fez um pagamento ao
nefrologista Francisco José Mora Palma, que supervisionou seu transplante. Mora
então pagou US$ 18,5 mil a um desempregado de 37 anos por seu rim, de acordo
com um documento do tribunal.
Horas depois de Dorin chegar a San José, em junho
de 2012, Mora teve um encontro com ela e o doador em seu hotel. Ali, ela disse,
eles assinaram declarações juramentadas em espanhol, idioma que ela não sabe
ler, jurando que o dinheiro não trocaria de mãos. "Minha situação era
crítica", contou Dorin. "Eu não me sentia bem, e minha condição
estava se agravando. Mesmo sabendo que era ilegal, acho que eu não teria feito
nada diferente."
Em 2012, cerca de 50 mil visitantes já gastavam US$
330 milhões por ano na Costa Rica com procedimentos tão diversos quanto
tratamentos de canal e abdominoplastias, segundo o Conselho para a Promoção
Internacional da Medicina de Costa Rica. Especialistas como nefrologistas e
cirurgiões de transplantes precisam trabalhar em hospitais públicos, onde
recebem possivelmente US$ 7.000 mensais. Mas podem ganhar mais que isso
trabalhando fora de seu horário normal em hospitais particulares, dando
atendimento a pacientes ricos.
Chefe de nefrologia no hospital público Rafael
Ángel Calderón Guardia, o Dr. Mora também tinha privilégios nos hospitais
particulares Clínica Bíblica e La Católica. Ele disse em vídeo que um
transplante de rim poderia custar US$ 250 mil nos Estados Unidos. Mora não
respondeu a reiterados pedidos de entrevista.
Os que forneceram rins a pacientes estrangeiros
foram, em sua maioria, homens de baixa renda e baixo nível de instrução. Duas
doações foram organizadas por um imigrante grego em Costa Rica, Dimosthenis
Katsigiannis, que tem 56 anos e é proprietário da pizzaria Akropolis.
De acordo com seu advogado, em 2009 Katsigiannis
recebeu uma ligação de um parente que precisava de um transplante. Ele fez
algumas perguntas a médicos que frequentavam seu restaurante e foi encaminhado
ao Dr. Mora.
Um homem de 38 anos que ofereceu um rim por cerca
de US$ 5.500 ficou tão satisfeito que seu irmão mais velho procurou fazer o
mesmo, disse o advogado de Katsigiannis, Jesús Gilberto Corella Quesada.
Segundo o advogado, Katsigiannis não recebeu nada por seu envolvimento.
As autoridades disseram que vendedores subsequentes
foram recrutados por Maureen Cordero Solano, 33 anos, uma policial que também
era taxista. Ela recebeu US$ 1.000 de Mora por doador, segundo um mandado de
busca.
O NYT descobriu que os transplantes de Ophira Dorin
e dois outros israelenses foram organizados por Dayan, que negou enviar
pacientes a Costa Rica. A polícia de Israel se negou a comentar se está
investigando o caso de Costa Rica. A investigação feita pela Costa Rica cresceu
após um episódio em 18 de março de 2013 em que um casal costa-riquenho chegou
ao aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv. Rosa, então com 20 anos, e Roberto, 26,
eram naturais do planalto central costa-riquenho, onde o café e a
cana-de-açúcar são cultivados em férteis encostas vulcânicas. (O NYT não
publicou seus nomes completos porque eles são considerados testemunhas
protegidas.) Nenhum deles tinha estado fora do país ou viajado de avião antes. O
embaixador de Costa Rica em Israel, Rodrigo X. Carreras Jiménez, disse que o
casal chamou a atenção da polícia quando desembarcou com apenas uma mala, pouco
dinheiro e tendo como único plano encontrar um desconhecido na saída de
passageiros.
"Eles acabaram confessando que tinham vindo para
vender um rim da moça", disse Carreras. Disseram que o Dr. Mora era o
intermediário. Contatados em Costa Rica, Rosa e Roberto disseram não saber por
que foram enviados a Israel, sendo que o normal era que as pessoas que
receberiam os transplantes viajassem até Costa Rica.
Eles tinham contraído empréstimos de quase US$
3.000 e estavam tendo dificuldade em saldar a dívida. Roberto ganhava US$ 500
mensais como guarda de segurança, e Rosa estava concluindo o colegial. Eles
tinham um bebê e viviam numa favela. Roberto contou que uma parente - Maureen
Cordero - lhe propôs uma saída. Quando exames médicos desqualificaram Roberto
como doador, Rosa se ofereceu para doar um rim. No aeroporto, segundo Carreras,
uma enfermeira chegou e pediu para extrair sangue de Rosa. Um advogado também
apareceu. Ele e a enfermeira foram mandados embora. O advogado, Lior Lev, disse
que um cliente, cujo nome ele se recusou a informar, o tinha mandado à procura
do casal. Documentos legais mostram que Lev já representou Yaacov Dayan em
outras questões.
Rede desbaratada
Em 18 de junho de 2013, policiais costa-riquenhos
invadiram o hospital Calderón Guardia e prenderam o Dr. Mora. O Organismo de
Investigação Judicial, o FBI do país, também prendeu Maureen Cordero e
apreendeu registros médicos de Mora. O médico passou quatro meses preso, até
pagar fiança de US$ 180 mil.
Os documentos apreendidos levaram as autoridades a
várias pessoas que tinham vendido seus rins e resultaram na prisão, em outubro,
do cirurgião vascular Victor Hugo Monge Monge, que havia transplantado os
órgãos, e dos dois urologistas que os extraíram dos doadores. Uma porta-voz do
promotor principal disse que acusações criminais formais devem ser feitas
contra Katsigiannis, Mora e os três outros médicos. Maureen Cordero está
cooperando com a promotoria, e as pessoas que venderam seus rins foram
incluídas num programa de proteção do governo.
"Nenhum deles está em boa condição financeira,
social ou de saúde", disse Henry Madrigal Ledezma, do Organismo de
Investigação Judicial. A direção do hospital La Católica, onde foi realizada a
maioria dos transplantes, não respondeu a pedidos de declarações. O hospital
Clínica Bíblica disse que não poderia ter suspeitado que doadores e receptores
organizariam transplantes baseados "em declarações falsas". O
escândalo levou a Assembleia Legislativa costa-riquenha a aprovar uma lei em
março que endurece as restrições ao tráfico de órgãos.
Não foram feitas acusações a Sandler, Volfman e
seus colaboradores. A investigação parecia estar fechando o cerco em torno
deles quando a polícia israelense prendeu um dos ajudantes de Volfman, em
abril. Numa audiência, o superintendente de polícia Meir Arenfeld disse que a
polícia e promotores estavam estudando transplantes organizados na Turquia pela
empresa de Volfman, Leshem Shamaim. No final do ano passado, nefrologistas
israelenses notaram que receptores de rins estavam retornando de Ancara, a
capital turca. Um deles trazia registros médicos encaminhados por um
funcionário da Leshem Shamaim. "Está claro para nós que essas pessoas
venderam seus corpos por centavos", disse Arenfeld, aludindo aos doadores.
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