Com traje especial de proteção, equipe serve
refeição a pacientes infectados com ebola em Kailahun
#COMENTÁRIO
Com todo desconhecimento de causa possível sobre o assunto, mas com certa
dose de lógica, dá para se imaginar que essas medidas austeras de segurança
estão corretas. Deveria ser seguida por todas as unidades que controlam pacientes
portadores do ebola. Se medidas dessa monta tivessem sido tomadas já de início,
não teriam morrido tantas pessoas e muito menos ter sido transportado para outras
aglomerações de pessoas, não teria sido declarada ameaça mundial.
Todos, mas todos mesmo, sem distinção de personalidade ou cargo
representativo, que tiveram ou venham a ter contato com o vírus, deve
submeter-se a esses métodos de segurança, para o bem da humanidade. Que não
torne a ocorrer o que os primeiros a entrar em contato com o vírus fizeram... Saíram
espalhando-o pelos quatro cantos do planeta, inclusive o próprio cientista que
descobriu o ebola.
#Disse
Carlos Leonardo
Fonte: Folha de São Paulo
#CONVITE
O que você acha das
medidas de segurança tomadas? Foram válidas?
Dê sua opinião (clique no título da matéria para comentar).
PATRÍCIA CAMPOS MELLO - AVENER
PRADO - ENVIADOS
ESPECIAIS A KAILAHUN (SERRA LEOA) - 19/08/2014
A infectologista italiana Livia Tampellini, 38,
costuma ter dois pesadelos recorrentes. Em um deles, a médica está em um
vilarejo, e uma pessoa com ebola vem correndo e vomita em seus pés. Em outro,
ela sonha que uma de suas luvas se rasga, demora a perceber e se contamina com
o vírus no hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras em Kailahun, leste de Serra
Leoa, na África. O emprego de Livia é entrar todos os dias na área de alto
risco do hospital para cuidar de doentes de ebola, altamente contagiosos. O
hospital – o maior centro de tratamento de ebola do mundo, com 80 leitos – foi
construído no meio da selva em junho. Há seis médicos trabalhando, mas serão
dez em pouco tempo. Aqui, não há espaço para erros. "Qualquer deslize é
fatal", conta Livia, que está em Kailahun há dez dias e antes estava
trabalhando na epidemia na Guiné. Médicos, enfermeiras e higienistas que
trabalham diretamente com os doentes de ebola, dentro das áreas de alto risco,
seguem um protocolo rígido de segurança para evitar contaminação. Eles sempre
trabalham em duplas, para que um avise o outro se, por exemplo, há algum
milímetro de pele exposto. Todos usam o chamado PPE (Equipamento de Proteção
Pessoal, na sigla em inglês), composto de um macacão de segurança amarelo, um
capuz, óculos especiais, um avental, botas e duas luvas em cada mão. Dentro dos
macacões, a temperatura chega a 46º C. Por isso, cada médico ou enfermeiro pode
ficar até 45 minutos dentro da área de alto risco. Aí sai, faz a desinfecção
com água com cloro a 0,5%, tira a roupa e descansa meia hora. Só daí pode
voltar. Os prontuários nunca saem da área de alto risco. Os médicos escrevem e
gritam para a enfermeira do lado de fora anotar em um bloco não contaminado. A
comida dos doentes é deixada entre as duas cercas de isolamento. Nada que está
dentro da área de isolamento sai. As roupas e sapatos dos doentes são
queimados. Os macacões de proteção dos funcionários também –150 por dia, a um
custo de US$ 20 (R$ 45) cada. Os celulares dos pacientes são mergulhados em
água com cloro durante 24 horas, sem as baterias, para desinfecção. O dinheiro
também. "É muito risco, mas nós seguimos todos os procedimentos", diz
Patrick Karimau, 26. Ele é higienista, encarregado de limpar fezes, vômito e
sangue nas tendas, altamente contagiosos. Antes, consertava telefones celulares
e ganhava 25 mil leones por mês (cerca de US$ 55). Agora, ganha US$ 46 mil (US$
100).
CLORO E SANGUE
Lá dentro, quando as equipes de limpeza acabaram de
passar, o cheiro é de cloro. Mas, muitas vezes, o que se sente é um odor de
sangue. Muitos pacientes em estágio final da doença sangram pela boca, nariz e
vagina. Todos os funcionários precisam medir sua temperatura duas vezes por
dia. A qualquer sinal de febre, vão para o isolamento e são testados. Até
agora, ninguém se contaminou no hospital do MSF. Nos centros de tratamento do
governo, houve várias mortes de médicos e enfermeiras. Primeiro, porque ainda
não seguem um protocolo rígido de controle de infecção. Além disso, não dispõem
de todos os equipamentos de proteção, muito caros. Mas, mesmo com todas as
precauções dos MSF, o perigo é alto. "Muitos pacientes ficam confusos e
agressivos em estágios avançados da doença – é perigoso, atacam os enfermeiros,
tentam arrancar a máscara", conta a enfermeira americana Mary Jo Frawley,
59, que já esteve em mais de 20 missões com os MSF. Para Livia, que já esteve
no Haiti e no Iraque, o ebola é o maior desafio que já enfrentou. "Não existe
cura. O máximo que podemos fazer é deixar o paciente hidratado, limpo, mais
confortável, não deixá-lo morrer sozinho em casa, ou contaminando o resto da
família", diz. O hospital é composto por várias tendas – uma para
pacientes suspeitos de terem o vírus, outra para aqueles que provavelmente têm
(reúnem três dos sintomas da doença e tiveram contato com algum doente) e oito
para os que fizeram exames e foram confirmados como portadores. Doentes com
ebola que se sentem melhor ficam fora das tendas, já que dentro é muito quente.
De lá, é possível falar com quem está fora da área de risco, aos gritos, porque
há uma distância de 1 metro e meio e duas cercas. "Quando sair daqui, vou
ser o homem mais feliz da face da Terra", contou à Folha Idrissa
Nallo, 23, que está há 22 dias internado com ebola. A primeira coisa que quer
fazer é acompanhar um jogo de futebol do seu time, o Arsenal, da Inglaterra. "Mas
vou ter que tirar um tempo para reorganizar nossa vida; meu pai morreu, agora
sou o mais velho e nós perdemos muita gente da família", afirma. A família
inteira contraiu ebola – pai, mãe e 14 irmãos. Morreram sete, incluindo o pai. O
hospital de Kailahun já tratou 320 pacientes. Cerca de 65% morreram.
Os médicos do MSF não costumam ficar mais de dois
meses em cada posto, pois o trabalho é muito estressante.
Segundo Livia, uma das coisas mais difíceis é não
poder tocar ninguém durante meses. É uma regra, para não haver transmissão. "Depois
de dias assistindo a pessoas morrerem, às vezes precisamos muito de um contato
humano", diz.
"Por isso, às vezes nos abraçamos dentro da
área de alto risco, todos vestidos com a roupa de proteção, só para sentir um
contato físico."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Qual a sua opinião sobre isso?