quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Em Serra Leoa, hospital adota regras rígidas contra o ebola

Com traje especial de proteção, equipe serve refeição a pacientes infectados com ebola em Kailahun



#COMENTÁRIO

Com todo desconhecimento de causa possível sobre o assunto, mas com certa dose de lógica, dá para se imaginar que essas medidas austeras de segurança estão corretas. Deveria ser seguida por todas as unidades que controlam pacientes portadores do ebola. Se medidas dessa monta tivessem sido tomadas já de início, não teriam morrido tantas pessoas e muito menos ter sido transportado para outras aglomerações de pessoas, não teria sido declarada ameaça mundial.
Todos, mas todos mesmo, sem distinção de personalidade ou cargo representativo, que tiveram ou venham a ter contato com o vírus, deve submeter-se a esses métodos de segurança, para o bem da humanidade. Que não torne a ocorrer o que os primeiros a entrar em contato com o vírus fizeram... Saíram espalhando-o pelos quatro cantos do planeta, inclusive o próprio cientista que descobriu o ebola.

#Disse

Carlos Leonardo



#CONVITE

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PATRÍCIA CAMPOS MELLO - AVENER PRADO - ENVIADOS ESPECIAIS A KAILAHUN (SERRA LEOA) - 19/08/2014  

A infectologista italiana Livia Tampellini, 38, costuma ter dois pesadelos recorrentes. Em um deles, a médica está em um vilarejo, e uma pessoa com ebola vem correndo e vomita em seus pés. Em outro, ela sonha que uma de suas luvas se rasga, demora a perceber e se contamina com o vírus no hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras em Kailahun, leste de Serra Leoa, na África. O emprego de Livia é entrar todos os dias na área de alto risco do hospital para cuidar de doentes de ebola, altamente contagiosos. O hospital – o maior centro de tratamento de ebola do mundo, com 80 leitos – foi construído no meio da selva em junho. Há seis médicos trabalhando, mas serão dez em pouco tempo. Aqui, não há espaço para erros. "Qualquer deslize é fatal", conta Livia, que está em Kailahun há dez dias e antes estava trabalhando na epidemia na Guiné. Médicos, enfermeiras e higienistas que trabalham diretamente com os doentes de ebola, dentro das áreas de alto risco, seguem um protocolo rígido de segurança para evitar contaminação. Eles sempre trabalham em duplas, para que um avise o outro se, por exemplo, há algum milímetro de pele exposto. Todos usam o chamado PPE (Equipamento de Proteção Pessoal, na sigla em inglês), composto de um macacão de segurança amarelo, um capuz, óculos especiais, um avental, botas e duas luvas em cada mão. Dentro dos macacões, a temperatura chega a 46º C. Por isso, cada médico ou enfermeiro pode ficar até 45 minutos dentro da área de alto risco. Aí sai, faz a desinfecção com água com cloro a 0,5%, tira a roupa e descansa meia hora. Só daí pode voltar. Os prontuários nunca saem da área de alto risco. Os médicos escrevem e gritam para a enfermeira do lado de fora anotar em um bloco não contaminado. A comida dos doentes é deixada entre as duas cercas de isolamento. Nada que está dentro da área de isolamento sai. As roupas e sapatos dos doentes são queimados. Os macacões de proteção dos funcionários também –150 por dia, a um custo de US$ 20 (R$ 45) cada. Os celulares dos pacientes são mergulhados em água com cloro durante 24 horas, sem as baterias, para desinfecção. O dinheiro também. "É muito risco, mas nós seguimos todos os procedimentos", diz Patrick Karimau, 26. Ele é higienista, encarregado de limpar fezes, vômito e sangue nas tendas, altamente contagiosos. Antes, consertava telefones celulares e ganhava 25 mil leones por mês (cerca de US$ 55). Agora, ganha US$ 46 mil (US$ 100).

CLORO E SANGUE
Lá dentro, quando as equipes de limpeza acabaram de passar, o cheiro é de cloro. Mas, muitas vezes, o que se sente é um odor de sangue. Muitos pacientes em estágio final da doença sangram pela boca, nariz e vagina. Todos os funcionários precisam medir sua temperatura duas vezes por dia. A qualquer sinal de febre, vão para o isolamento e são testados. Até agora, ninguém se contaminou no hospital do MSF. Nos centros de tratamento do governo, houve várias mortes de médicos e enfermeiras. Primeiro, porque ainda não seguem um protocolo rígido de controle de infecção. Além disso, não dispõem de todos os equipamentos de proteção, muito caros. Mas, mesmo com todas as precauções dos MSF, o perigo é alto. "Muitos pacientes ficam confusos e agressivos em estágios avançados da doença – é perigoso, atacam os enfermeiros, tentam arrancar a máscara", conta a enfermeira americana Mary Jo Frawley, 59, que já esteve em mais de 20 missões com os MSF. Para Livia, que já esteve no Haiti e no Iraque, o ebola é o maior desafio que já enfrentou. "Não existe cura. O máximo que podemos fazer é deixar o paciente hidratado, limpo, mais confortável, não deixá-lo morrer sozinho em casa, ou contaminando o resto da família", diz. O hospital é composto por várias tendas – uma para pacientes suspeitos de terem o vírus, outra para aqueles que provavelmente têm (reúnem três dos sintomas da doença e tiveram contato com algum doente) e oito para os que fizeram exames e foram confirmados como portadores. Doentes com ebola que se sentem melhor ficam fora das tendas, já que dentro é muito quente. De lá, é possível falar com quem está fora da área de risco, aos gritos, porque há uma distância de 1 metro e meio e duas cercas. "Quando sair daqui, vou ser o homem mais feliz da face da Terra", contou à Folha Idrissa Nallo, 23, que está há 22 dias internado com ebola. A primeira coisa que quer fazer é acompanhar um jogo de futebol do seu time, o Arsenal, da Inglaterra. "Mas vou ter que tirar um tempo para reorganizar nossa vida; meu pai morreu, agora sou o mais velho e nós perdemos muita gente da família", afirma. A família inteira contraiu ebola – pai, mãe e 14 irmãos. Morreram sete, incluindo o pai. O hospital de Kailahun já tratou 320 pacientes. Cerca de 65% morreram.
Os médicos do MSF não costumam ficar mais de dois meses em cada posto, pois o trabalho é muito estressante.
Segundo Livia, uma das coisas mais difíceis é não poder tocar ninguém durante meses. É uma regra, para não haver transmissão. "Depois de dias assistindo a pessoas morrerem, às vezes precisamos muito de um contato humano", diz.
"Por isso, às vezes nos abraçamos dentro da área de alto risco, todos vestidos com a roupa de proteção, só para sentir um contato físico." 

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