domingo, 31 de agosto de 2014

Falta de água é culpa do governo de SP, afirma relatora da ONU



#COMENTÁRIO


Relatora das Nações Unidas para a questão da água, 
                 Catarina de Albuquerque
Somente alguém com uma visão estrangeira para poder ter um conceito desses, salvo raríssimas exceções, nós brasileiros não temos essa visão preventiva em nenhum segmento. Temos o hábito de colocar trancas logo após a porta ser arrombada, de corrermos desesperadamente para consertar situações quase sempre imprevistas por nós. E esse arranque para o início das providências é demorado, demanda de muita conversa e autorizações que às vezes chegam a acontecer várias vezes até ter seu início. Essas decisões não estão vinculadas a partidos políticos ou políticos isoladamente, mas ao comportamento, à educação individual de qualquer brasileiro.
Em quaisquer áreas ou segmentos da sociedade que se apresente problemas cruciais, inevitavelmente, veremos que houve falta de previsão, de antecipação e providências para que aquele problema não ocorresse ou se impossível, fosse de menor monta.

#Disse

Carlos Leonardo



#CONVITE

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LUCAS SAMPAIO - E CAMPINAS - 31/08/2014  

Relatora das Nações Unidas para a questão da água, a portuguesa Catarina de Albuquerque, 44, afirma que a grave crise hídrica em São Paulo é de responsabilidade do governo do Estado. "E não sou a única a achar isso."
Ela visitou o Brasil em dezembro de 2013, a convite do governo federal.
De volta ao país, ela falou com a Folha na semana passada em Campinas, após participar de um debate sobre a crise da água em São Paulo.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) nega que faltem investimentos e atribui a crise à falta de chuvas nos últimos meses, que classifica como "excepcional" e "inimaginável".
A seguir, trechos da entrevista à Folha.
*
Que lições devemos tirar desta crise?
Temos de nos planejar em tempos de abundância para os tempos de escassez. E olhar para a água como um bem precioso e escasso, indispensável à sobrevivência humana. Em Singapura, no Japão e na Suíça, a água do esgoto, tratada, é misturada à água comum. É de excelente qualidade. Temos de olhar o esgoto como recurso.

No caso de São Paulo, acha que faltou ao governo do Estado adotar medidas e fazer os investimentos necessários?
Acho que sim, e não sou a única. Já falei com vários especialistas aqui no Brasil que dizem exatamente isso. Admito que uma parte da gravidade poderia não ser previsível, mas a seca, em si, era. Tinha de ter combatido as perdas de água. É inconcebível que estejam quase em 40%.

A água deveria ser mais cara? Há modelos de cobrança mais adequados do que o atual?
A prioridade tem de ser as pessoas. Quem usa a água para outros fins tem mais poder que os mais pobres, que têm de ter esse direito garantido. Em muitos países, a água é mais cara para a indústria, a agricultura e o turismo, por exemplo. Deveria haver também um aumento exponencial do preço em relação ao consumo, para garantir que quem consome mais pague muitíssimo mais.

Que exemplos poderiam inspirar os governos?
Os EUA multam quem lava o carro em tempos de seca; a Austrália diz aos agricultores que não há água para todos em situações de emergência; e no Japão há sistemas de canalização paralela para reutilizar a água.

Qual é a importância de grandes obras como a transposição do rio São Francisco ou o sistema Cantareira?
Por várias razões, há uma atração pelas megaobras nos investimentos feitos em água e esgoto, não só no Brasil. Mas elas, muitas vezes, não beneficiam as pessoas que mais precisam de ajuda. Para isso são necessárias intervenções de pequena escala, que são menos "sexy" de anunciar.

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