sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O risco de o ebola entrar no Brasil



#COMENTÁRIO

Lendo esta reportagem postada na Folha de São Paulo por sua repórter Patrícia C. Mello, volta-nos à mente que já havíamos comentado sobre essa possibilidade há uns tempos atrás. Considerando que no Brasil, as coisas tomam um vulto enorme no início, quando o fato dá resultado na exposição à mídia e depois cai no marasmo de sempre. As providências que deveriam ser tomadas, passam a serem feitas aleatoriamente e sem qualquer qualidade.
Por essa brecha é que passam tudo o que deveria ter sido travado. Prova disso tudo, é o que relata a repórter, ela retornava do olho da contaminação do ebola e transitou por muitos aeroportos sem qualquer molestação e desembarca aqui no Brasil como se nada houvesse a se certificar, mesmo o passaporte apontando a origem da viagem.
Aí vem o governo e nos diz com todas as letras que estamos tomando providências para que a infecção não chegue ao Brasil. Dá para levar a sério?

#Disse

Carlos Leonardo



#CONVITE

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Patrícia Campos Mello - 05/09/2014  

Passei 10 dias em Serra Leoa, um dos países mais afetados pela epidemia de ebola. Na volta, eu e o repórter fotográfico Avener Prado enfrentamos o preconceito (bastante compreensível) das pessoas. Muitos temiam que pudéssemos estar trazendo o vírus. Apesar da ampla cobertura na imprensa, muitas pessoas ainda acreditam que o vírus pode ser transmitido pelo ar, como a gripe. Não, ele só se transmite através de fluidos infectados, como saliva, sangue, vômito, de um doente já sintomático. Por enquanto, a epidemia está restrita a seis países africanos: Serra Leoa, Libéria, Guiné, Senegal, Nigéria e República Democrática do Congo (um surto separado, de um vírus de uma cepa diferente).

Mas será que existe risco de o vírus ebola chegar ao Brasil?
Atrevo-me a dizer que existe, sim, risco, apesar de ser baixo. O Ministério da Saúde vem noticiando que adotou uma série de medidas para se preparar para uma possível a entrada do vírus no Brasil. Mas o fato é que o Brasil (e vários outros países) não estão preparados. Nós embarcamos em um voo saindo de Freetown, capital de Serra Leoa, no dia 20 de agosto. Lá no aeroporto, mediram nossa temperatura três vezes e nós preenchemos um formulário com perguntas sobre os principais sintomas do ebola: tínhamos febre? tivemos diarreia ou vômitos? Algum sangramento?
Depois dessa primeira vistoria, entramos no avião e, sete horas depois, chegamos em Bruxelas. Lá, na capital da União Europeia, ninguém nos perguntou nada, tampouco mediu nossa temperatura. O carimbo no passaporte mostrando que estávamos vindo do epicentro da epidemia aparentemente não acendeu nenhuma luz vermelha.
De lá fomos para Londres. De novo, ninguém perguntou nada, nem sacou o termômetro. No dia 22 finalmente chegamos ao Brasil, pousando no aeroporto de Guarulhos. Mais uma vez, nenhuma pergunta nos foi feita e ninguém mediu nossa temperatura. O "plano de prevenção" se limitou a recados pelo alto falante do aeroporto, alertando para possíveis sintomas do ebola.

Agora, sem ser alarmista, consideremos a seguinte situação hipotética: eu entrei em contato direto com uma pessoa contaminada com ebola e sintomática em Serra Leoa (o que não aconteceu, vale ressaltar). Quando embarquei em Freetown no dia 20, ainda não tinha febre. Mas comecei a apresentar sintomas em Londres. Como ninguém me perguntou nada, nem mediu minha temperatura, embarquei tranquilamente para o Brasil. E, chegando em São Paulo, com ebola e sintomática, entrei livremente. O Brasil recebe muitos imigrantes das regiões afetadas, principalmente do Senegal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o risco de transmissão por viajante internacional é considerado muito baixo. Mas custaria muito pouco para o governo brasileiro ao menos monitorar a temperatura e questionar os passageiros chegando da África Ocidental. 


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