quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Disputa pelo acesso à água envolve até jagunços no interior do Ceará


Sociedade





  
#COMENTÁRIO


Tudo no norte e nordeste brasileiro é muito mais difícil de resolver. Em tudo há o dedo de coronéis, de latifundiários, de políticos concentradores e mandatários. Por outro lado, um povo espalhado pelos sertões, sem comunicação entre si, sem instrução alguma, muitos analfabetos e acima de tudo, um medo perene no ar dos tais senhores. Vendo esse cenário, quase se chega a entender a linha de pensamento dos movimentos sem-terra, que nessas plagas até têm razão de ser. São pessoas de poucos ou talvez nenhum relacionamento social, quase sempre aliadas à baixíssima escolaridade em ambos os lados da contenda.
E por cima de tudo, inevitavelmente, a bandeirinha vermelha, coisa que mais se vê em solo brasileiro hoje dia. Talvez seja para contrastar com as caras rosadas de vergonha por sermos conivente com injustiças sociais e parceria com políticos tão ignorantes quanto o próprio povo, porém com muito poder.
Esse é o retrato do Brasil de esquerda radical envolvido pela massa vermelha que toma conta do continente americano. Por isso e por muitas outras coisas mais é que nossa cara de trabalhadores, de pessoa honrada, de pessoa lutadora pela vida está rosada, chorosa e angustiada.

#Disse

Carlos Leonardo



#CONVITE

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ANDRÉ UZÊDA - ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DO CEARÁ - 18/09/2014 

Conhecida pelos crimes de pistolagem e disputas por terra, uma região do interior do Ceará hoje é palco de conflitos pelo acesso à água. O Estado tem hoje 96% de seus municípios em estado de emergência por causa da seca.
Um desses focos de tensão está em Limoeiro do Norte, a 207 km de Fortaleza.
Lá, famílias de lavradores que sofriam com a falta de água em suas propriedades invadiram uma área federal e montaram acampamento ao lado de um duto que liga o rio Jaguaribe a plantações de soja, banana e milho.
"A briga aqui não é por terra como em outras regiões. Nós temos terras em outros locais, mas não temos condições de plantar e viver nelas porque lá não tem água", diz o agricultor Rafael Alves, 29. O clima é de apreensão. Produtores temem o fechamento das bombas que levam água aos pontos de irrigação. "Se isso acontecesse, aí sim teria um conflito. Seria difícil segurar produtores para não invadir o acampamento a bala vendo as plantações morrendo", diz Raimundo dos Santos, presidente da associação rural dos produtores da Chapada do Apodi.
Toda água bombeada e que passa pelo duto, nessa área federal, é administrada por empresas e produtores.
Na área invadida, os lavradores ergueram guaritas em frente ao acampamento e usam fogos de artifício para alertar as famílias de possíveis ataques dos produtores – por ora, só alarmes falsos. A água do canal não serve para beber, mas as famílias a utilizam para cozinhar, pescar e tomar banho. Uma vez por semana, um carro-pipa é enviado pela prefeitura para encher um tanque de 30 mil litros no acampamento. Esse conflito por água no Ceará não é um caso isolado. Segundo a CPT (Comissão da Pastoral da Terra), é um dos 104 espalhados hoje pelo país e que envolvem invasões de terra, ações judiciais e até o uso de violência. A maioria dos conflitos (42%) está no Nordeste, com 44 casos, segundo relatório da comissão divulgado este ano. Em seguida aparecem as regiões Norte (28), Sudeste (20), Sul (9) e Centro-Oeste (3). Para o pesquisador Roberto Malvezzi, da CPT, os conflitos por água no Nordeste têm o peso histórico da falta de recursos hídricos, mas é agravada atualmente por causa do prolongamento da estiagem nos últimos anos. "Há também uma briga de prioridades que envolve o agronegócio, que necessita de muita água para gerar recursos, e os pequenos produtores, que precisam da água para finalidades básicas, como beber, tomar banho ou cultivar pequenas hortas."

AÇUDE PRIVATIZADO
Em Potiretama, a 82 km de Limoeiro do Norte, há um outro conflito por água – e, da mesma forma, tenso.
Um fazendeiro "privatizou" um açude estatal e é acusado de usar a força para impedir a população de plantar nos arredores. A terra de João Alves foi desapropriada em 2006 para a construção do açude Bom Jardim – hoje quase todo seco. Mesmo com a obra pronta, ele continuou plantando capim às margens do açude e criando gado leiteiro. Cercou o açude público com arame farpado e restringiu o uso pelos pequenos agricultores.
Segundo eles, o fazendeiro enviou jagunços para ameaçar os que usavam a vazante do açude para plantar feijão e milho. "Eles destruíram tudo, dizendo que ninguém tinha o direito de plantar lá", diz o agricultor Marcos Nogueira.
Para o fazendeiro, a denúncia é "invenção do povo". Ele diz que construiu as cercas porque até hoje o governo não demarcou as terras. "O governo me indenizou, mas não definiu o que era meu e o que era dele. Cerquei para proteger minha propriedade", diz ele, sem responder porque escolheu justamente a área do açude.
Segundo o governo do Ceará, as demarcações foram definidas no ato da desapropriação, e toda a área em torno do açude pertence ao Estado. 


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